E por falar em futebol...
Virou pelada?
Tânia Fusco
Só depois de ter filhos homens consegui entender a magia do futebol e a paixão da torcida. É cega, sem cão guia. Não enxerga um palmo adiante. Justifica tudo. Odeia de morte os adversários. Aprova e celebra o vale tudo em campo, desde que favoreça o time do coração. Gol de mão a favor é sorte, contra é putaria grave. Se o time está ruim, derruba o técnico. Contrata outro e renovam-se as esperanças. Artilheiro que troca de time é traíra. Se voltar, é herói. Campeonato perdido é uma tragédia. Mas a dor passa logo, porque vem nova temporada e, claro, começa tudo de novo.
A razão da torcida é burra. Empurra no grito até time de perneta porque traz na alma a paixão pelo escudo.
Não é muito diferente na política. É só dar um rolê nos comentários dos blogs para ver explícita a paixão da torcida. Resiste e justifica tudo. Da cueca à quebra do sigilo. Já absorveu completamente malas e mensaleiros. Segue fiel, raivosa e acusadora. “Antes de nós, outros fizeram. É jogo das elites. E a privatização de FHC? E o sigilo do painel do ACM? Minha dança virou escândalo porque sou gorda, de cabeça branca e do PT”. Morrem secos, mas não admitem os desacertos de hoje, do time do coração.
Aí é que mora o perigo. Na cegueira. O que devia provocar indignação generalizada fica reduzido à guerra de torcida. Mas no meio desse embate (ou seria empate?) das torcidas organizadas tem um país e um povo tentando carregar no peito o desgastado escudo dos princípios. Poucos que sejam. Os básicos. Não pode roubar, não pode matar. Mentira serve para esconder coisa errada.
Papai e mamãe nos ensinaram: não é porque o outro errou que a gente pode errar também. Lei tem ser cumprida por todinhos da silva – pobre, remediado e rico, nascido na elite ou emergente instalado. Não concorda, faz campanha contra, protesta, luta para mudar. Mas, enquanto estiver valendo tem de cumprir. Simplório, mas real. Não foi com esse discurso que o PT criou corpo e com o santo voto de mais da metade do eleitorado chegou ao poder?
Peraí. A lei nos dá até a folga de silenciar para não se incriminar. Mas mentir continua sendo crime, quando esconde delitos. Boca fechada é uma coisa. Mentir é outra. Seres humanos no exercício de funções públicas – pequenas ou grandes – não podem, digamos, falsear a verdade e descumprir leis.
As torcidas que me perdoem, mas a continuar a cegueira geral, podemos considerar que é perfeito o ceticismo expresso pelo sociólogo experimentado. A diferença entre uns e outros é a seguinte: a direita rouba para si e dá o troco para a causa. A esquerda rouba para a causa e fica com o troco para si. O povo e o país que se danem.
Tânia Fusco é jornalista
Tânia Fusco
Só depois de ter filhos homens consegui entender a magia do futebol e a paixão da torcida. É cega, sem cão guia. Não enxerga um palmo adiante. Justifica tudo. Odeia de morte os adversários. Aprova e celebra o vale tudo em campo, desde que favoreça o time do coração. Gol de mão a favor é sorte, contra é putaria grave. Se o time está ruim, derruba o técnico. Contrata outro e renovam-se as esperanças. Artilheiro que troca de time é traíra. Se voltar, é herói. Campeonato perdido é uma tragédia. Mas a dor passa logo, porque vem nova temporada e, claro, começa tudo de novo.
A razão da torcida é burra. Empurra no grito até time de perneta porque traz na alma a paixão pelo escudo.
Não é muito diferente na política. É só dar um rolê nos comentários dos blogs para ver explícita a paixão da torcida. Resiste e justifica tudo. Da cueca à quebra do sigilo. Já absorveu completamente malas e mensaleiros. Segue fiel, raivosa e acusadora. “Antes de nós, outros fizeram. É jogo das elites. E a privatização de FHC? E o sigilo do painel do ACM? Minha dança virou escândalo porque sou gorda, de cabeça branca e do PT”. Morrem secos, mas não admitem os desacertos de hoje, do time do coração.
Aí é que mora o perigo. Na cegueira. O que devia provocar indignação generalizada fica reduzido à guerra de torcida. Mas no meio desse embate (ou seria empate?) das torcidas organizadas tem um país e um povo tentando carregar no peito o desgastado escudo dos princípios. Poucos que sejam. Os básicos. Não pode roubar, não pode matar. Mentira serve para esconder coisa errada.
Papai e mamãe nos ensinaram: não é porque o outro errou que a gente pode errar também. Lei tem ser cumprida por todinhos da silva – pobre, remediado e rico, nascido na elite ou emergente instalado. Não concorda, faz campanha contra, protesta, luta para mudar. Mas, enquanto estiver valendo tem de cumprir. Simplório, mas real. Não foi com esse discurso que o PT criou corpo e com o santo voto de mais da metade do eleitorado chegou ao poder?
Peraí. A lei nos dá até a folga de silenciar para não se incriminar. Mas mentir continua sendo crime, quando esconde delitos. Boca fechada é uma coisa. Mentir é outra. Seres humanos no exercício de funções públicas – pequenas ou grandes – não podem, digamos, falsear a verdade e descumprir leis.
As torcidas que me perdoem, mas a continuar a cegueira geral, podemos considerar que é perfeito o ceticismo expresso pelo sociólogo experimentado. A diferença entre uns e outros é a seguinte: a direita rouba para si e dá o troco para a causa. A esquerda rouba para a causa e fica com o troco para si. O povo e o país que se danem.
Tânia Fusco é jornalista
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