Editorial

Salazar

De vez em quando Salazar ponteia meus pensamentos. Para os mais jovens, que não sabem de quem se trata, estou falando de Antonio de Oliveira Salazar, ditador de Portugal durante quarenta anos. Fascista, católico conservador, simpatizante do nazismo, Salazar foi um governante absolutista, com idéias colonialistas do século XVIII. Para manter as colônias de África, Angola e Moçambique, envolveu Portugal em guerras dispendiosas, que mataram milhares de jovens. Ao mesmo tempo viu a Índia se apoderar de Goa, Damão e Diu, sem ter condições de reagir. Durante o governo de Salazar qualquer tentativa de oposição era fortemente esmagada. A PIDE, polícia política de métodos dignos da SS se tornou lendária, impondo terror aos portugueses. Inclusive aos que viviam na diáspora. Mas o que tinha Salazar de especial para que dele eu me lembrasse? Provavelmente o apego quase religioso à estabilidade da moeda. De 1928 a 1968, quando deixou o poder, inflação era uma palavra desconhecida em Portugal, parâmetro de tranqüilidade e segundo alguns críticos, monotonia. Ordem, estabilidade e moeda forte, eis o tripé do pensamento salazarista. Quase me esqueço da Santa Madre Igreja. Jesus também fazia parte do cenário. Nos quarenta austeros anos salazaristas a nação de D. Sebastião se transformou em fornecedora de mão de obra, exportando jovens para as Américas e Europa. Em Portugal não havia trabalho. Inflação zero. Crescimento também zero. Com a moeda forte surgiu uma casta financeira riquíssima, enquanto o país alquebrado envelhecia, até se tornar uma espécie de Albânia do Atlântico. No Brasil de hoje a inflação está controlada e existe liberdade de pensamento e expressão. No entanto, Portugal e Salazar não me saem da cabeça...

Sidney Borges

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