China em pauta

País vira destino de pilotos brasileiros

Dos 500 comandantes em atividade no exterior, 150 estão na China

Cláudia Trevisan, DONGGUAN E SHENZHEN (original aqui)
A implosão de três grandes companhias aéreas em apenas seis anos transformou o Brasil em um grande exportador de pilotos para a aviação mundial, e hoje há quase 500 comandantes tupiniquins voando em companhias estrangeiras, a maioria na Ásia e no Oriente Médio. A China tem uma das maiores concentrações, com cerca de 150 brasileiros, que suprem parte da demanda por mão de obra qualificada criada pela expansão anual média de 18% do tráfego aéreo desde 1980.

Dentro do país asiático, o destino preferencial é a Shenzhen Airlines, que emprega 40 brasileiros na aviação comercial e mais 15 na empresa de carga em sociedade com a alemã Lufthansa, a Jade Cargo. Reginaldo Teixeira e a mulher, Selma Pinheiro, foram pioneiros na aventura chinesa. Depois de trabalhar 17 anos na Varig e ser o vice-presidente da associação de pilotos da empresa, Teixeira foi demitido em 2001, junto com toda a diretoria da entidade. Desempregado por três anos e meio, foi contratado pela Shenzhen Airlines em 2004.

A Varig é a origem da maioria dos comandantes que está na China, mas há egressos da Vasp, da Transbrasil e da BRA. Ogando Santos começou na aviação em 1973, voou por 18 anos na Transbrasil, que deixou de operar em 2001. Sem perspectiva no Brasil, aceitou há cinco anos a proposta de mudança para a China.

"Foi um susto, mas foi bem interessante. Isso aqui é uma grande escola." Muitos pilotos guardam um profundo ressentimento pela incapacidade do Brasil de manter e expandir um setor que consideram estratégico. "Saí do Brasil sem nada. Não recebi indenização trabalhista e perdi minha aposentadoria. Eu tenho que reconstruir minha vida", disse Marcelo Klein, que trabalhou por 18 anos na Varig.

Segundo ele, houve um período em que 11 dos 30 integrantes de sua turma na escola de pilotos da companhia estavam na Shenzhen. Em 2006, 40 brasileiros foram contratados de uma só vez. O processo de seleção foi em São Paulo, sob o comando do também brasileiro Lotario Kieling, que voou na Vasp entre 1982 e 2003, e é um dos poucos que não se mudaram para o país empurrado pela crise.

"Sou fascinado pelo taoismo e sempre quis vir para a China", ressaltou. Kieling chegou em 2004 e logo conseguiu emprego na Shenzhen. Hoje é gerente da subseção de pilotos estrangeiros, grupo que representa 100 dos 400 comandantes da companhia. A meta até o fim do ano é elevar o número para 200.

Maurício Blauth comprou uma passagem e embarcou com dois amigos para a China em busca de emprego em 2006. Com 15 anos de Varig, havia sido demitido pouco antes, quando a empresa cortou 5.500 de seus 9.500 funcionários. Blauth assinou o contrato com a companhia em novembro daquele ano. A mulher, Cleuza Baumbach, e o filho Lucas, 11, chegaram em janeiro de 2007. "Vale a pena pelas crianças. Elas adoram porque têm uma liberdade que não têm no Brasil."

A crise da Varig atingiu em cheio o casal Jazon Alves e Cristiane Miguens, que trabalhou 15 anos na companhia - ele era piloto e ela, comissária. Alves foi um dos 40 selecionados pela Shenzhen em julho de 2006 e teve duas semanas para se mudar. "Quando eu dizia que estava me mudando para a China, as pessoas achavam que era piada", lembra Cristiane. A ex-comissária chegou ao país em novembro de 2006 com seus dois filhos, Caio, 13, e Daniel, 5. Hoje, a família não pensa em voltar ao Brasil. Se saírem da China, será para outro destino no exterior.

No ranking dos mais adaptados, a liderança fica com Sérgio Mello, sua mulher Alcenira, e as filhas Juliana, 25, e Andrea, 21. "A ideia de voltar para o Brasil por razões profissionais me parece absurda", ponderou Mello, que trabalhou na Vasp de 1982 a 1999 e está na Ásia há oito anos, três na China. Juliana estuda chinês na Universidade de Shenzhen e Andrea cursa administração em Xangai. "Eu amo a China", diz Juliana.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu