Reclamação de leitor

RECICLAR, GERIATRA OU CORREGEDORIA?

Hoje, 19/02/06, afrontado em meus direitos, procurei a Delegacia de Polícia de Ubatuba, lá adentrando no plantão pela 10,40 horas.
Lá fui para dar a notícia e iniciar o pedido de proteção legal para as ocorrências policiais de que fui vítima. Em suma, fui fazer um competente Boletim de Ocorrência, um BO.
Sala de recepção vazia, exultei por não ter que esperar, por poder, de imediato, dar notícia à autoridade competente do que me ocorrera e sentir que estava dando inicio ao processo de proteção que a lei confere aos cidadãos.
Aguardei no guichê envidraçado enquanto o funcionário de plantão se dignava a olhar para meu lado, o que ocorreu quando do intervalo de um programa televisivo que dito amanuense (**) assistia.
Perguntou-se o que queria e lhe disse que registrar um BO.
Não lhe disse, por óbvio, que estava cumprindo a rotina dos ofendidos criminalmente, que estava ressalvando meus direitos. A compreensão de coisa tão básica se pressupõe a quem esteja sentado no local onde estava o funcionário. O que já se acha extraordinário, no caso, é a presença de aparelho de TV em pleno funcionamento. E, a bem da verdade, mesmo sem saber que canal acessava, tenho certeza que não era o da Justiça.
No mesmo instante, sem querer saber do que se tratava, imagino que estava para terminar o intervalo do programa de TV, disse-me que não faria tal, pois não entendia o que estava ocorrendo...
Era tal o que outro observador poderia chamar de aparente displicência, desinteresse, arrogância e prepotência com que fui recebido que perguntei-lhe o nome: disse-me, depois de matutar um pouco, que é Roberval Tomazo.
Sentei-me, para me acalmar e, no próximo intervalo da TV, voltei ao balcão e reiterei meu pedido.
Ele me disse, para grande espanto meu, que aquilo não se fazia, que eu deveria aprender... a lei ou, suponho, o Direito.
Sempre calmo, fí-lo saber que era, há quarenta anos, formado em Direito e militante advogado.
Comecei a ficar até preocupado com a possível fragilidade de meu curso de Direito: afinal, formei-me anos antes na mesma faculdade que cursou ilustre policial desta cidade, com grande e competente trabalho desenvolvido.
A cena era surreal. A TV absorvendo o funcionário de plantão e eu só, no mesmo dia, pela segunda vez, desamparado de meus direitos e da segurança dos que acreditam no império da lei.
Veio-me a sensação de que aos vetustos (*), de fato ou de aparência, ao invés do respeito, os poderosos lhes concedam, no máximo, a indiferença.
Poderoso, aqui, é no sentido de quem detém, episodicamente, o uso da caneta ou a chave da porta da cadeia.
Era e é meu direito registrar o BO.
Era e é meu direito que tal se faça pelo funcionário de plantão, principalmente quando ao mesmo nos dignamos tratar com cortesia, educação e calma. Foi o que sempre fiz e faço, ao longo de minha vida.
Não bato boca, não escrevo anonimamente, não murmuro pelos cantos.
Procuro meus direitos e meu lugar como alguém que tem estas prerrogativas em face de vida e de atitudes claras.
Por me negar a bater boca com pessoa totalmente onipotente, me vi vencido ou por minha velhice, ignorância e/ou incompetência, ou pela desídia, pela má vontade de um amanuense despreparado ou, também é possível, pela excelência de um programa de TV que eu, em hora inadequada, estava privando o funcionário.
Assim, o título da presente: estou numa encruzilhada onde não sei se volto a estudar (apesar de ter sido bom aluno, até com curso no exterior), se procuro médico geriatra ou se conto, de ofício, com o bom trabalho do superior do amanuense indigitado, com o encaminhamento do assunto à competente CORREGEDORIA, para as providências de praxe e de estilo.
Em tempo, estarei apresentando minha queixa via representação escrita à Autoridade Policial, ai, com certeza, competente.

(*) VETUSTO - [Do lat. vetustu.]
Adj.
1. Muito velho; antiqüíssimo; antigo: &
2. Deteriorado pelo tempo.
Respeitável pela idade.

(**) AMANUENSE - [Do lat. amanuense.]
S. 2 g.
1. Escrevente, copista.
2. Funcionário público de condição modesta que fazia a correspondência e copiava ou registrava documentos.

Roberto de Mamede Costa Leite
r-mamede@uol.com.br


Nota do editor - O funcionário público acima citado tem o direito de dar a sua versão do acontecimento, estando este espaço disponível para que assim seja feito.

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