Isto é... FHC

Aguinaldo Munhoz
A divulgação da “lista de Furnas” está produzindo efeitos colaterais muito interessantes. Primeiro, foi a deputada federal Zulaiê Cobra, que revelou publicamente seu desejo de fechar a Central Única dos Trabalhadores. Depois, foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que declarou à revista IstoÉ que “a ética do PT é roubar”.
Claro, não há motivos para surpresa. Há muito sabíamos que FHC era o “cérebro” (quem assiste desenho animado, entenderá as aspas) dos ataques abaixo da linha da cintura, desferidos pela oposição conservadora contra o PT. Mas sempre é útil ver que tipo de efeito a divulgação da tal lista de Furnas provoca sobre as sinapses do ex-príncipe dos sociólogos.
FHC declarou à IstoÉ que nunca ouviu “falar em tanta corrupção como neste governo. As massas de dinheiro envolvidas são muito altas”.
Que é isso, companheiro! Por mais que se esforcem, a oposição de direita e a grande imprensa não conseguem chegar perto dos valores envolvidos na privataria realizada no seu mandarinato.
Apesar disso, FHC considera que “a corrupção neste governo é muito mais grave do que nos outros casos da história (...) porque os outros casos eram individuais, enquanto no governo Lula a corrupção se organizou e teve a chancela do partido do governo (...) No governo Lula, a corrupção tem organicidade, foi arquitetada. É sistêmica.”
É incrível: o sujeito, pelo visto, acha que esquecemos do que ele escreveu e também do que ele falou e fez, quando presidente da República.
Não se trata, apenas, de seus diálogos telefônicos a respeito das privatizações, com interlocutores que agiam “no limite da irresponsabilidade”. Lembro, principalmente, dos métodos utilizados para garantir a aprovação da emenda da reeleição. Há algo mais “sistêmico” do que aquilo?
Na seqüência da entrevista, FHC acusa o presidente Lula de “viciado em comer moscas”. Mas a julgar pelas suas palavras desbocadas, é Fernando Henrique quem corre o risco de morrer pela boca. Vejamos só o que ele diz a respeito do PT: “a ética do PT é roubar”.
Das duas, uma. Ou o ex-presidente está com vontade de disputar as eleições de 2006 e acha que, ao ser processado pelo PT, recuperará alguns pontos nas pesquisas de opinião. Ou algo o deixou muito nervoso, a ponto de “pesar na mão” de suas declarações. Tem coisas que só Furnas explica.
Vejamos como o ex-presidente da República chegou à conclusão de que “a ética do PT é roubar”: “No PT, o militante acredita que está expropriando a burguesia para manter os seus ideais”. É incrível, mas da mesma forma como na conhecida piada sobre a lógica de um ex-governador mineiro, Cardoso como FHC, o ex-príncipe dos sociólogos foi capaz de fazer a seguinte associação de idéias: PT... partido de esquerda... marxismo... expropriação dos capitalistas... roubo.
No melhor estilo da TFP, Fernando Henrique considera que a “expropriação” é igual ao “roubo”. Fosse atuante no século XIX, nosso anti-Proudhon faria sucesso entre os senhores de escravos.
A entrevista de FHC à revista IstoÉ contém outros momentos de “brilhantismo”, como quando ele diz que “um caso como o do Delúbio só tem paralelo naqueles processos de Moscou, na década de 1930, sob Stalin. Os grandes heróis da revolução, lá, assumiram coisas que não tinham feito.”
Ou seja: segundo FHC, as comissões parlamentares de inquérito são fraudulentas, do ponto de vista ético, jurídico e político.
Deixemos para os advogados a acusação do ex-presidente, segundo quem a compra de computadores pelo PT constituiu uma “transferência indireta de dinheiro público para uma organização privada”; e pulemos a defesa prévia segundo a qual “uma coisa é o caixa 2 de campanhas eleitorais. Outra coisa, bem mais grave, é manter o apoio ao governo à custa de dinheiro público.”
De toda forma, temos que agradecer ao ex-presidente FHC por suas palavras claras, que deixam claro como é inútil tratar com luvas de pelica o PSDB. Foi errado fazer isso no início do governo Lula, quando deveríamos ter promovido uma devassa nos oito anos de tucanagem. É errado agora, durante a CPI, em que a boa vontade de alguns petistas para com certos tucanos de alta plumagem é retribuída com ataques abaixo da linha da cintura. E será errado no futuro, pois ao contrário do que continua afirmando um ex-ministro de nosso governo, PT e PSDB só fazem sentido como pólos opostos da política brasileira.

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