Coluna da Segunda-feira
Ubatuba x Itacaré
Rui Grilo
Agora, na baixa temporada, uma conhecida empresa tem divulgado com bastante destaque em jornais de grande circulação e pela internet, pacotes turísticos para várias cidades do Brasil, com preços razoáveis e pagamento parcelado em 10 pagamentos, o que facilita a participação para uma faixa maior da população. No entanto me intriga o fato de que Ubatuba e o Litoral Norte não fazerem parte dessas promoções. Será que esses pacotes não interessam aos empresários de hotelaria daqui ? Será que eles não concordam em baixar suas tarifas para manter um fluxo mais contínuo de turistas?
Aproveitei essa promoção para conhecer Itacaré, uma cidadezinha com 25 mil habitantes no Litoral da Bahia. Como recentemente foi inaugurada uma nova estrada até Valença, facilitando o acesso ao Morro de São Paulo, aproveitei para realizar um sonho acalentado a muito tempo.
Fiquei impressionado com a quantidade de turistas e de aviões que desceram em Ilhéus.
No avião em que eu estava havia quase 150 passageiros e boa parte foi para Itacaré. Para isso, é necessário vencer mais 70 km em aproximadamente uma hora e meia.
À primeira vista, a cidade é feia, com ruas pequenas e pequenas casas adaptadas à nova onda turística. Mas, à noite a cidade fervilha com diferentes tipos de restaurantes e de música ambiente. A iluminação e a decoração com artesanato local dá um charme e colorido à rua principal, a Pituba, e suas travessas. Conversando com os moradores, se percebem os problemas do crescimento rápido e desordenado: falta de coleta de esgoto e de destinação adequada para o lixo.
Num raio de 1 km, há 5 pequenas e bonitas praias. A mais próxima, a das Conchas, bem arborizada, tem a cor de chá devido aos mangues do Rio das Contas, que desce da Chapada Diamantina e deságua no mar em Itacaré. Dessas cinco, apenas a das Conchas e a da Ribeira oferecem estrutura para receber o turista com algum conforto. A última, a da Ribeira, tem uma tirolesa que atravessa a praia de um morro ao outro. Oferece também atividades de arvorismo. No entanto, os turistas quase ficam sem conhecer essas praias devido à quantidade de pacotes turísticos que são oferecidos a eles quando chegam e que, por se situarem em lugares mais distantes, são distribuídos pelos vários dias da semana. Se o turista optar por pacotes em todos os dias, o valor se aproxima ao que ele pagou entre São Paulo e Itacaré pelos oito dias.
Itacaré é diferente das outras praias que conheci no Nordeste, porque a Mata Atlântica se aproxima das praias espremendo os coqueirais na faixa mais próxima do mar. Grande parte da mata é particular e impede o acesso de veículos às praias. O acesso ao mar é feito por trilhas e como havia chovido e a terra era argilosa, estava muito escorregadia. Assim, cada pacote abrange a trilha para uma ou quatro praias próximas.
Durante os dias em que estive lá e enquanto voltava, fiquei matutando a razão das companhias turísticas ignorarem Ubatuba enquanto vendem Itacaré e outros destinos mais distantes. Se a gente consultar o guia Quatro Rodas vai verificar que Ubatuba é um dos destinos com a maior quantidade de atrativos: temos lindas praias, duas aldeias indígenas, vários quilombos, muitas cachoeiras e trilhas, um belíssimo Horto Florestal, o Projeto Tamar, o Aquário e variada gastronomia. Pode-se chegar a grande parte das nossas praias de ônibus urbano, de carro ou de bicicleta, o que não ocorre lá. A oferta de atrativos aumenta muito e pode crescer mais quando se pensa em um turismo regional integrado envolvendo São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba, São Luís do Paraitinga, Paraty e Cunha.
Os passeios mais interessantes estão à razoável distância, em outros municípios, como Camamu e Morro de São Paulo, envolvendo quase sempre transporte rodoviário e aquático. Diga-se de passagem, que o acesso a Barra Grande e ao Morro de São Paulo se faz no interior de uma grande bahia repleta de mangues. No entanto, com música repetitiva e em volume muito alto, que incomoda quem está a fim de relaxar e apreciar a paisagem.
Se Itacaré se sustenta vendendo pacotes que inclui toda a região, porque não conseguimos?
É bem verdade que o clima lá dá uma ajuda, mantendo a temperatura da água, mas vi turistas reclamando que nem com jipe estavam conseguindo realizar alguns roteiros da região devido às inundações.
Não vejo porque não se estimular o turismo rodoviário, ligando São Paulo à Ubatuba, porque a criação da Airton Senna reduziu o tempo e o trecho de serra e do litoral, embora demorado é de rara beleza que a gente não se cansa de contemplar. O tempo que se gasta é o mesmo que se gasta a Itacaré, se levarmos em conta o tempo que perdemos nos deslocando até o aeroporto, tendo que chegar com duas horas de antecedência, e o tempo que se leva de Ilhéus até Itacaré. As empresas de turismo poderiam até fazer parcerias com a Litorânea, fretando horários especiais, o que poderia reduzir o custo das passagens. E o deslocamento dentro do município e para os atrativos regionais criaria novos empregos para taxistas e empresas de turismo locais.
Acho que está na hora ou já passou da hora de tentarmos um acordo com as grandes companhias de turismo e, caso continuem a boicotar Ubatuba e o Litoral Norte, iniciarmos uma campanha de boicote a essas empresas.
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br
Twitter
Rui Grilo
Agora, na baixa temporada, uma conhecida empresa tem divulgado com bastante destaque em jornais de grande circulação e pela internet, pacotes turísticos para várias cidades do Brasil, com preços razoáveis e pagamento parcelado em 10 pagamentos, o que facilita a participação para uma faixa maior da população. No entanto me intriga o fato de que Ubatuba e o Litoral Norte não fazerem parte dessas promoções. Será que esses pacotes não interessam aos empresários de hotelaria daqui ? Será que eles não concordam em baixar suas tarifas para manter um fluxo mais contínuo de turistas?
Aproveitei essa promoção para conhecer Itacaré, uma cidadezinha com 25 mil habitantes no Litoral da Bahia. Como recentemente foi inaugurada uma nova estrada até Valença, facilitando o acesso ao Morro de São Paulo, aproveitei para realizar um sonho acalentado a muito tempo.
Fiquei impressionado com a quantidade de turistas e de aviões que desceram em Ilhéus.
No avião em que eu estava havia quase 150 passageiros e boa parte foi para Itacaré. Para isso, é necessário vencer mais 70 km em aproximadamente uma hora e meia.
À primeira vista, a cidade é feia, com ruas pequenas e pequenas casas adaptadas à nova onda turística. Mas, à noite a cidade fervilha com diferentes tipos de restaurantes e de música ambiente. A iluminação e a decoração com artesanato local dá um charme e colorido à rua principal, a Pituba, e suas travessas. Conversando com os moradores, se percebem os problemas do crescimento rápido e desordenado: falta de coleta de esgoto e de destinação adequada para o lixo.
Num raio de 1 km, há 5 pequenas e bonitas praias. A mais próxima, a das Conchas, bem arborizada, tem a cor de chá devido aos mangues do Rio das Contas, que desce da Chapada Diamantina e deságua no mar em Itacaré. Dessas cinco, apenas a das Conchas e a da Ribeira oferecem estrutura para receber o turista com algum conforto. A última, a da Ribeira, tem uma tirolesa que atravessa a praia de um morro ao outro. Oferece também atividades de arvorismo. No entanto, os turistas quase ficam sem conhecer essas praias devido à quantidade de pacotes turísticos que são oferecidos a eles quando chegam e que, por se situarem em lugares mais distantes, são distribuídos pelos vários dias da semana. Se o turista optar por pacotes em todos os dias, o valor se aproxima ao que ele pagou entre São Paulo e Itacaré pelos oito dias.
Itacaré é diferente das outras praias que conheci no Nordeste, porque a Mata Atlântica se aproxima das praias espremendo os coqueirais na faixa mais próxima do mar. Grande parte da mata é particular e impede o acesso de veículos às praias. O acesso ao mar é feito por trilhas e como havia chovido e a terra era argilosa, estava muito escorregadia. Assim, cada pacote abrange a trilha para uma ou quatro praias próximas.
Durante os dias em que estive lá e enquanto voltava, fiquei matutando a razão das companhias turísticas ignorarem Ubatuba enquanto vendem Itacaré e outros destinos mais distantes. Se a gente consultar o guia Quatro Rodas vai verificar que Ubatuba é um dos destinos com a maior quantidade de atrativos: temos lindas praias, duas aldeias indígenas, vários quilombos, muitas cachoeiras e trilhas, um belíssimo Horto Florestal, o Projeto Tamar, o Aquário e variada gastronomia. Pode-se chegar a grande parte das nossas praias de ônibus urbano, de carro ou de bicicleta, o que não ocorre lá. A oferta de atrativos aumenta muito e pode crescer mais quando se pensa em um turismo regional integrado envolvendo São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba, São Luís do Paraitinga, Paraty e Cunha.
Os passeios mais interessantes estão à razoável distância, em outros municípios, como Camamu e Morro de São Paulo, envolvendo quase sempre transporte rodoviário e aquático. Diga-se de passagem, que o acesso a Barra Grande e ao Morro de São Paulo se faz no interior de uma grande bahia repleta de mangues. No entanto, com música repetitiva e em volume muito alto, que incomoda quem está a fim de relaxar e apreciar a paisagem.
Se Itacaré se sustenta vendendo pacotes que inclui toda a região, porque não conseguimos?
É bem verdade que o clima lá dá uma ajuda, mantendo a temperatura da água, mas vi turistas reclamando que nem com jipe estavam conseguindo realizar alguns roteiros da região devido às inundações.
Não vejo porque não se estimular o turismo rodoviário, ligando São Paulo à Ubatuba, porque a criação da Airton Senna reduziu o tempo e o trecho de serra e do litoral, embora demorado é de rara beleza que a gente não se cansa de contemplar. O tempo que se gasta é o mesmo que se gasta a Itacaré, se levarmos em conta o tempo que perdemos nos deslocando até o aeroporto, tendo que chegar com duas horas de antecedência, e o tempo que se leva de Ilhéus até Itacaré. As empresas de turismo poderiam até fazer parcerias com a Litorânea, fretando horários especiais, o que poderia reduzir o custo das passagens. E o deslocamento dentro do município e para os atrativos regionais criaria novos empregos para taxistas e empresas de turismo locais.
Acho que está na hora ou já passou da hora de tentarmos um acordo com as grandes companhias de turismo e, caso continuem a boicotar Ubatuba e o Litoral Norte, iniciarmos uma campanha de boicote a essas empresas.
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br
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