Na cultura norte americana, motores diesel foram sinônimo de motores de locomotivas e navios por muitos anos. Mesmo os caminhões pesados americanos utilizaram gasolina como combustível durante décadas. Como maior potência mundial, os americanos influenciaram o todo o resto do mundo. No início da década de 1940, a empresa americana Guilberson Diesel, por exemplo, ofereceu no mercado um excelente motor radial de 9 cilindros Diesel, de 320 HP e que tinha apenas 280 Kg de peso. Era uma ótima relação peso-potência para a época, e seria satisfatória até hoje. Fez vários voos de teste, mas não equipou nenhuma aeronave de produção. Por que? Simplesmente porque os pilotos acharam os motores "preguiçosos" para acelerar, e os gases de escapamento eram "malcheirosos"... Realmente, com o irrisório preço da gasolina na década de 40, qual americano iria se dignar a operar um motor com escapamento malcheiroso?
As vantagens do motor Diesel sobre os motores Otto são inúmeras para a aviação: para começar, são motores muito mais eficientes e econômicos. O motor SMA de 230 Hp, por exemplo, consome 34 litros de querosene de aviação por hora, em média, quando o motor Lycoming IO-540 consome 60 litros de AVGAS por hora. Ou seja, além de ter operação mais barata, o avião pode ter maior autonomia ou carregar menos peso morto em combustível.
Outra grande vantagem é a simplicidade de operação. O motor Diesel não necessita de sistema de ignição, fonte de inúmeros problemas nos motores a gasolina. Controles de mistura de combustível são igualmente desnecessários e inexistentes. Os motores diesel também operam melhor com turbo-compressores que os motores a gasolina, o que garante boa reserva de potência a grande altitude, com um consumo irrisório se comparado com os motores a gasolina. Motores mais simples têm operação mais segura, pois possuem menos componentes para dar pane.
Uma vantagem adicional dos sistemas de ignição por compressão dos motores Diesel é que isso torna desnecessários os pesados e complexos sistemas de blindagem dos sistemas de ignição, fonte de interferência considerável nos sistemas de comunicação e navegação por rádio dos aviões.
Motores Diesel operam com combustível muito menos volátil que a gasolina. Os motores Diesel aeronáuticos consomem normalmente o querosene de aviação, amplamente disponível em qualquer aeroporto, mas podem consumir sem problemas o óleo diesel comum e o biodiesel. A baixa volatilidade desses combustíveis reduz dramaticamente o risco de incêndio, e deixa praticamente de existir o risco de formação de bolhas de vapor nas linhas de combustível (vapor lock), responsável por boa parte dos incidentes de parada ou perda de potência em voo dos motores a gasolina, especialmente em grande altitudes.
Com relação aos problemas de lentidão na aceleração reportados pelos pilotos na década de 1940, são coisas do passado, pois os motores gerenciados eletronicamente e de alta rotação de hoje possuem excelente resposta ao comando das manetes de potência, e mesmo os motores antigos eram mais rápidos de resposta do que qualquer tipo de motor a reação. Quanto aos gases de escapamento malcheirosos, são preferíveis aos altamente venenosos gases de escapamento da AVGAS. Vale dizer ainda que os pilotos de motores a reação não costumam reclamar do cheiro de querosene do escapamento dos seus motores.
Motores a gasolina de ciclo 2 tempos nunca foram populares na aviação, e só foram usados nos antigos ultraleves. A maior desvantagem desses motores é a lubrificação deficiente, o que causava eventuais travamentos do motor em voo e baixa durabilidade. Já os motores Diesel 2 tempos não têm essa desvantagem, pois não há circulação de mistura no cárter (nem mesmo existe a "mistura"). Os sistemas de lubrificação dos motores Diesel 2 tempo são semelhantes aos utilizados nos motores 4 tempos, e garantem excelente durabilidade, tanto é que são amplamente utilizados em locomotivas e navios, onde o requisito durabilidade do motor é fundamental.
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