Circo da Notícia
O limite da liberdade
Carlos Brickmann no Observatório da Imprensa
Nardoni? Não, este será o tema de outra nota. Mas tem a ver com o noticiário sobre o julgamento do casal, condenado pela morte de sua filha Isabella. No setor de comentários de um grande portal noticioso, entre ataques ao casal (ampla maioria), defesa (bem menos), considerações sobre o júri, chamava a atenção um post com insinuações pornográficas a respeito da ministra Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência da República. Inadmissível: protegida pelo uso covarde de pseudônimo, surge a despropositada agressão.
O problema, no entanto, não é apenas o pseudônimo: é a oferta de espaço para que mal-educados, malucos, grosseiros possam externar livremente seus preconceitos. O referido portal, um dos maiores do país, não pode abrir seu espaço privilegiado, sem mediação, a pessoas que baixam o nível do debate. O salário dos mediadores certamente não afetará o balanço de lucros da empresa.
E a liberdade de expressão? A liberdade de expressão tem alguns limites óbvios: por exemplo, ninguém tem liberdade de gritar "fogo" num teatro lotado, apenas para ver a confusão que vai dar. Ninguém tem a liberdade de apitar num estádio para bloquear as jogadas dos adversários (o torcedor pode até tentar, e alguns já o fizeram, mas se forem surpreendidos pelos seguranças terão outras surpresas). Ninguém pode subir num caixote, na calçada, e incitar um assassínio. A liberdade de expressão, como qualquer liberdade, encontra seu limite natural na liberdade dos outros – na liberdade de fazer campanha, por exemplo, sem que sua reputação seja manchada apenas por motivos eleitorais.
A internet é território livre e deve continuar a sê-lo. Quem quiser tem a possibilidade de montar gratuitamente seus blogs e exprimir sua opinião, seja qual for (respondendo por isso, civil e criminalmente, como qualquer pessoa que divulgue suas posições). Mas um espaço com leitura consolidada não tem o direito de se abrir para que malucos e idiotas procurem assassinar a reputação alheia.
Um blog esportivo, normalmente divertido, publicou um post que ultrapassa o limite da canalhice: na crítica a um dirigente de clube, insultou sua esposa, falecida há poucos meses.
Como agir para que a liberdade da internet, uma conquista da sociedade, não se transforme numa arma de difamar pessoas? É um bom tema de debate para nós, jornalistas. Pois ou nos autorregulamentamos ou encontraremos rapidamente alguém que, usando nossos erros como pretexto, irá regulamentar-nos para evitar nossos acertos.
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Carlos Brickmann no Observatório da Imprensa
Nardoni? Não, este será o tema de outra nota. Mas tem a ver com o noticiário sobre o julgamento do casal, condenado pela morte de sua filha Isabella. No setor de comentários de um grande portal noticioso, entre ataques ao casal (ampla maioria), defesa (bem menos), considerações sobre o júri, chamava a atenção um post com insinuações pornográficas a respeito da ministra Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência da República. Inadmissível: protegida pelo uso covarde de pseudônimo, surge a despropositada agressão.
O problema, no entanto, não é apenas o pseudônimo: é a oferta de espaço para que mal-educados, malucos, grosseiros possam externar livremente seus preconceitos. O referido portal, um dos maiores do país, não pode abrir seu espaço privilegiado, sem mediação, a pessoas que baixam o nível do debate. O salário dos mediadores certamente não afetará o balanço de lucros da empresa.
E a liberdade de expressão? A liberdade de expressão tem alguns limites óbvios: por exemplo, ninguém tem liberdade de gritar "fogo" num teatro lotado, apenas para ver a confusão que vai dar. Ninguém tem a liberdade de apitar num estádio para bloquear as jogadas dos adversários (o torcedor pode até tentar, e alguns já o fizeram, mas se forem surpreendidos pelos seguranças terão outras surpresas). Ninguém pode subir num caixote, na calçada, e incitar um assassínio. A liberdade de expressão, como qualquer liberdade, encontra seu limite natural na liberdade dos outros – na liberdade de fazer campanha, por exemplo, sem que sua reputação seja manchada apenas por motivos eleitorais.
A internet é território livre e deve continuar a sê-lo. Quem quiser tem a possibilidade de montar gratuitamente seus blogs e exprimir sua opinião, seja qual for (respondendo por isso, civil e criminalmente, como qualquer pessoa que divulgue suas posições). Mas um espaço com leitura consolidada não tem o direito de se abrir para que malucos e idiotas procurem assassinar a reputação alheia.
Um blog esportivo, normalmente divertido, publicou um post que ultrapassa o limite da canalhice: na crítica a um dirigente de clube, insultou sua esposa, falecida há poucos meses.
Como agir para que a liberdade da internet, uma conquista da sociedade, não se transforme numa arma de difamar pessoas? É um bom tema de debate para nós, jornalistas. Pois ou nos autorregulamentamos ou encontraremos rapidamente alguém que, usando nossos erros como pretexto, irá regulamentar-nos para evitar nossos acertos.
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