Futebol

O crédito dos craques

Daniel Piza
Vivemos tempos em que supostos craques são anunciados a cada semana, mas também em que os verdadeiros craques são depostos com igual rapidez. É verdade que “futebol é momento”, como diz o chavão, e que, por exemplo, não faz sentido convocar para uma Copa do Mundo um jogador em longa má fase. E também é verdade que os melhores devem ser mais cobrados, pois afinal é deles que se espera sempre o lampejo redentor, a ruptura dos esquemas, e que o passar dos anos apaga essa centelha, reduz esse brilho. Mas não vejo lógica em endeusar qualquer moleque capaz de um truque ou dois com a bola (você se lembra do Kerlon, o “foquinha”, que seria expressão do futebol-arte?) e simultaneamente demonizar craques que venceram a mais difícil das partidas, o teste do tempo, e acumularam títulos merecidos.

Nome e passado não ganham jogo, mas exigem respeito. A seleção de 2006, apesar de eu sempre ter desconfiado do oba-oba que antecedia a Copa, me deixou chateado com seu futebol modorrento, caranguejo; mas também me chateou o tratamento que imprensa, torcida e CBF dispensaram a alguns jogadores – como Cafu, que num país sério já teria sido homenageado com uma despedida de gala. Outro é Roberto Carlos, um dos que pagaram a conta da expiação nacional depois que a TV o mostrou arrumando meião no lance do gol da França. Estou dizendo que eles fizeram uma boa Copa? Não. Estou sugerindo que deveriam ter continuado na seleção? Também não. O que lamento é que não sejam reconhecidos à altura pelo que fizeram em tantos anos – do mesmo modo como lamento que Paulo Henrique e Neymar não tenham chances com Dunga.

No caso de Roberto Carlos, há o adicional de que continua com grande capacidade física e técnica. Teve um recomeço complicado, com expulsões e tudo, mas agora está bem, com gols e tudo. No clássico contra o São Paulo, foi quem mais vezes pegou na bola, como ocorria com André Santos. E se entendeu muito bem com Danilo, outro jogador que, apesar de não ter a mesma sala de troféus, voltou sob desconfiança e agora já começa a provar seu talento. Imagine, então, se Ronaldo voltar a jogar o que jogou em abril e maio do ano passado… Sim, ele também merece crédito, apesar de continuar sem acertar dribles e chutes. Pode e deve ser criticado, mas não entendo que o mesmo comentarista que pede para ele ser substituído em todos os jogos – todos – não peça nunca para um Souza ser substituído… Técnica é técnica. A parte física está melhorando.
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