Brasil

Golpe

Sidney Borges
O telefone tocou, atendi:
- Pai, eles me pegaram pai, estão me batendo, vou morrer pai, eu não quero morrer! A voz denota desespero, lembra as novelas da rádio São Paulo.

Antes de continuar, abro parênteses. Eu sabia da existência do golpe, estava preparado para ser importunado a qualquer momento. Do interior de presídios uma cidade é escolhida e atacada via celular. Pelo andar da carruagem, a coisa funciona. Em tempo, não tenho filhos.

Respondo:
- Fique calmo, se eles te deixaram ligar é porque querem alguma coisa. Diga ao chefe que eu quero negociar

O chefe:
- Estamos com o garoto, se você não fizer o que eu mandar vamos te enviar uma orelha, depois outra orelha e depois a mão direita.

Eu, fingindo angústia:
- Não machuquem o menino, faço qualquer coisa, mas eu preciso falar o com meu filho. Depois dou o que vocês quiserem.

"Meu filho" com voz chorosa:
- Eles não param de bater pai.

A pergunta:
- Fique calmo. Para ter certeza que você é o meu filho vou te fazer uma pergunta. Qual é o nome do cachorro da tia Julieta?

Do outro lado da linha silêncio, ao fundo vozes sugerindo discussão.

"Meu Filho novamente:
- Estou nervoso pai, não me lembro, é um cachorrinho branco, não me lembro do nome, mas estou vendo o cachorrinho.

Eu, encerrando o papo:
- Fica pra outra garoto, não existe tia Julieta e eu não tenho filho, mas você é talentoso, quando sair da gaiola experimente a carreira artística. Muito calor no xilindró?

Enquanto eu ria dava para ouvir uma torrente de palavrões. Por educação não publicarei.

O fato me veio à cabeça por terem tentado novamente, desta vez o golpe tem a ver com algum programa televisivo que fala em milhão.

Comentários

Anônimo disse…
Eta mas tu és esperto profe!

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