O povo e as eleições

Opinião pública é uma, opinião publicada é outra

Por Carlos Brickmann no Observatório da Imprensa (original aqui)
Severino Cavalcanti, lembra? Severino foi apanhado em flagrante recebendo um capilezinho por fora, para assegurar ao restaurante da Câmara dos Deputados o direito de continuar funcionando. Sofreu pesada campanha de imprensa, teve de renunciar para não ser cassado. E se elegeu prefeito de sua cidade, João Alfredo (PE).


Jader Barbalho, lembra? Teve de renunciar à presidência do Senado para não ser cassado, foi preso pela Polícia Federal acusado de envolvimento num escândalo da Sudam, sofreu pesada campanha de imprensa. E se elegeu novamente deputado federal, com toda a facilidade.

Fernando Collor, lembra? Foi afastado da presidência da República por impeachment, ficou com os direitos políticos suspensos, sofreu pesada campanha de imprensa. Depois, elegeu-se senador.

Antonio Carlos Magalhães, lembra? Teve de renunciar para não ser cassado e sofreu pesada campanha de imprensa. Elegeu-se novamente e ainda foi por muitos anos o grande cacique da política baiana.


Em português claro, a opinião do Centro-Sul, base dos maiores meios de comunicação, não é a mesma das outras regiões do país; e, mais importante ainda (já que muitas vezes o eleitor dá seu voto exatamente onde os grandes veículos movem suas campanhas), a opinião publicada não tem muito a ver com a opinião pública. Há diversos exemplos: Jânio Quadros se elegeu prefeito de São Paulo pela primeira vez contra todos os grandes jornais da cidade; Adhemar de Barros raras vezes teve um grande jornal a favor, e sempre desempenhou papel decisivo nas eleições paulistas. Leonel Brizola ganhou no Rio contra todos os meios de comunicação de importância.

Nós, jornalistas, temos uma certa tendência a magnificar a influência daquilo que publicamos. Não é bem assim. Certa vez, a deputada federal Ivete Vargas, que vencera a luta contra Leonel Brizola pela sigla PTB, foi interpelada por um repórter, que queria saber como ela se sentia estando contra a opinião pública.

Ela bateu duro: tinha 300 mil votos, falava em nome de 300 mil pessoas. E o repórter, quantos votos tinha tido para falar em nome da opinião pública?

O curioso é que mantenhamos essa tendência autoglorificadora apesar das sucessivas derrotas na batalha pela opinião pública. Este colunista, por exemplo, acha que José Sarney não conduziu o Maranhão, ao menos na velocidade necessária, para o desenvolvimento e a melhora nas condições de vida. Mas esta, definitivamente, não tem sido a opinião do eleitor maranhense.

Sarney, sua família e seus candidatos perderam algumas poucas disputas e cansaram de ganhar eleições. Não podemos lutar contra os fatos – a menos que queiramos transformar-nos nos guias geniais da Nação, evitando que o eleitor fique votando em gente que não recomendamos.

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