Coluna da Segunda-feira
Bem-vindo
Rui Grilo
Tanto a tv quanto a internet e os jornais nos colocam em contato com tanta informação que, de certa forma, é como se nos anestesiassem e passássemos a não perceber, a não sentir, a não se emocionar e a se envolver com os dramas humanos. Muito diferente é o cinema, pois lá, mergulhamos no escuro e nos concentramos no que ocorre na tela.
Recentemente, três filmes abordaram as dificuldades que os imigrantes enfrentam ao tentarem uma nova vida em uma cultura muito diversa: Bem-Vindo, Entre os muros da escola e Jean Charles. Em todos os três não há concessões para um final feliz, o que nos tira de uma situação cômoda, isolados no nosso mundinho.
O impacto de “Bem-Vindo”, na França, foi tão forte que o Partido Socialista elaborou um projeto de lei batizado de “Welcome” que propõe a supressão dos artigos L622-1 e L622-4 do Código de entrada e estadia de estrangeiros, que penalizam com prisão de cinco anos e multa de 30 mil euros a quem ajudar, transportar ou abrigar qualquer imigrante ilegal.
Também suscitou uma áspera discussão entre seu diretor, Phillipe Lioret, e o ministro da imigração Eric Besson. Respondendo as críticas do ministro, o diretor afirma:
“"[...] A realidade, dizem, supera muitas vezes a ficção. A sua realidade, senhor Besson, contenta-se em igualar, o que já é o suficiente para ser lamentável, por confirmar, hoje em dia, em nosso país, que os simples valores humanos não são respeitados. Isso é o que senhor deveria achar ‘inaceitável’*
Nós, que muitas vezes olhamos, com ar condescendente, os europeus quando os comparamos com os norteamericanos, ficamos chocados com a brutal realidade mostrada na tela. Não que a solução seja fácil, porque numa época de crise e de desemprego, não é simples e fácil acolher a grande quantidade de imigrantes das mais diferentes partes do mundo. Por outro lado não há como negar o direito humano pela sobrevivência ao fugirem das terras de origem, vitimados pela guerra e pela fome.
Talvez o impacto seja maior quando se refere à França pela influência que teve ao disseminar os ideais de sua revolução: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Por outro lado, vemos a dificuldade do adolescente sobreviver e se posicionar num mundo criado pelos adultos, um mundo contraditório em que se coloca a solidariedade como um valor positivo mas que, colocada em prática pode resultar em punição a quem a pratica; em que o vizinho não é visto como um apoio, mas como um policial que ameaça a sua intimidade e liberdade, embora seu tapete de entrada traga a inscrição “welcome”.
Aqui mesmo, em Ubatuba, já vi muitas reações de hostilidade e de menosprezo com as pessoas que vieram de fora, especialmente mineiros e nordestinos. Por outro lado, há o problema real de disponibilidade de espaços e de empregos porque grande parte do território municipal e regional é de preservação permanente. No espaço que resta também há restrições, tanto para a instalação de indústrias como para a verticalização, o que limita ainda mais o espaço.
Essa situação nos leva a pensar em questões mais amplas que as da política municipal porque se houvesse um desenvolvimento mais homogêneo, certamente haveria melhores condições para todos e muitos não seriam obrigados a deixar seu espaço e seu grupo em busca de melhores condições de vida.
Fonte: http://www.acapa.com.br/site/noticia.asp?codigo=8709
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br
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Rui Grilo
Tanto a tv quanto a internet e os jornais nos colocam em contato com tanta informação que, de certa forma, é como se nos anestesiassem e passássemos a não perceber, a não sentir, a não se emocionar e a se envolver com os dramas humanos. Muito diferente é o cinema, pois lá, mergulhamos no escuro e nos concentramos no que ocorre na tela.
Recentemente, três filmes abordaram as dificuldades que os imigrantes enfrentam ao tentarem uma nova vida em uma cultura muito diversa: Bem-Vindo, Entre os muros da escola e Jean Charles. Em todos os três não há concessões para um final feliz, o que nos tira de uma situação cômoda, isolados no nosso mundinho.
O impacto de “Bem-Vindo”, na França, foi tão forte que o Partido Socialista elaborou um projeto de lei batizado de “Welcome” que propõe a supressão dos artigos L622-1 e L622-4 do Código de entrada e estadia de estrangeiros, que penalizam com prisão de cinco anos e multa de 30 mil euros a quem ajudar, transportar ou abrigar qualquer imigrante ilegal.
Também suscitou uma áspera discussão entre seu diretor, Phillipe Lioret, e o ministro da imigração Eric Besson. Respondendo as críticas do ministro, o diretor afirma:
“"[...] A realidade, dizem, supera muitas vezes a ficção. A sua realidade, senhor Besson, contenta-se em igualar, o que já é o suficiente para ser lamentável, por confirmar, hoje em dia, em nosso país, que os simples valores humanos não são respeitados. Isso é o que senhor deveria achar ‘inaceitável’*
Nós, que muitas vezes olhamos, com ar condescendente, os europeus quando os comparamos com os norteamericanos, ficamos chocados com a brutal realidade mostrada na tela. Não que a solução seja fácil, porque numa época de crise e de desemprego, não é simples e fácil acolher a grande quantidade de imigrantes das mais diferentes partes do mundo. Por outro lado não há como negar o direito humano pela sobrevivência ao fugirem das terras de origem, vitimados pela guerra e pela fome.
Talvez o impacto seja maior quando se refere à França pela influência que teve ao disseminar os ideais de sua revolução: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Por outro lado, vemos a dificuldade do adolescente sobreviver e se posicionar num mundo criado pelos adultos, um mundo contraditório em que se coloca a solidariedade como um valor positivo mas que, colocada em prática pode resultar em punição a quem a pratica; em que o vizinho não é visto como um apoio, mas como um policial que ameaça a sua intimidade e liberdade, embora seu tapete de entrada traga a inscrição “welcome”.
Aqui mesmo, em Ubatuba, já vi muitas reações de hostilidade e de menosprezo com as pessoas que vieram de fora, especialmente mineiros e nordestinos. Por outro lado, há o problema real de disponibilidade de espaços e de empregos porque grande parte do território municipal e regional é de preservação permanente. No espaço que resta também há restrições, tanto para a instalação de indústrias como para a verticalização, o que limita ainda mais o espaço.
Essa situação nos leva a pensar em questões mais amplas que as da política municipal porque se houvesse um desenvolvimento mais homogêneo, certamente haveria melhores condições para todos e muitos não seriam obrigados a deixar seu espaço e seu grupo em busca de melhores condições de vida.
Fonte: http://www.acapa.com.br/site/noticia.asp?codigo=8709
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br
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