Brasil

Reflexões

Sidney Borges
Quando aconteceu a disputa entre Lula e Collor, em 1989, o mundo ainda estava dividido em dois blocos. O ainda foi proposital, pouco tempo depois o comunismo deixou de ter relevância, surpreendendo até espiões da CIA.

Eu sei que no Brasil há muitos comunistas de fé que dirão que Cuba e Coréia do Norte estão ai para invalidar meu raciocínio. É verdade, Cuba continua comunista, a Coréia do Norte também, mas são países de pouco significado econômico. A China mantém um regime teoricamente comunista, mas há muito tempo abriu os portos às nações amigas e já não é considerada estranha no ninho capitalista.

Volto à disputa entre o "Caçador de marajás" e o "Sapo barbudo". Na reta final da campanha o PT insistiu em manter o velho e desgastado discurso ameaçador. Vocês verão capitalistas, vamos encher seus apartamentos de indigentes. Os donos da banca davam de ombros, as contas na Suíça garantiriam champanhe e caviar, mas a classe média que os petistas chama de zelite ficou temerosa.

Esses loucos vão tirar meu apartamento de dois quartos adquirido em 20 anos pelo BNH. O partido deixava no ar a possibilidade de alterar o modo de produção capitalista.

Em 1989 votei no PT, no primeiro turno havia votado em Covas. Votei em Lula com a certeza de que nada mudaria nos fundamentos econômicos, não havia clima nem dinheiro para tanto, mas fui iludido pela perspectiva de que alguma coisa seria feita para mudar a cara deste país tão desigual.

Saneamento básico, Educação e Saúde teriam tratamento diferenciado nas mãos de Lula. Fiquei na esperança, o medo do comunismo colocou Collor na presidência, depois foi o fiasco que todos conhecem.

A base petista continua sonhando com o eldorado igualitário, mas a verdade é que o modo de produção capitalista está firme, forte e rijo. Os meus sonhos de avanços dentro do sistema se esgarçaram no ar feito a fumaça da música de Dick Farney.

Os recentes arroubos de paixão demonstrados aos antigos desafetos, Sarney e Collor, pouco ou nada farão contra a popularidade de Lula, mas certamente não o ajudarão a transferir votos para a candidata do PT à presidência da República.

O tempo passa rápido, dentro de um ano estaremos em plena campanha para escolher quem vai suceder Lula. O próximo presidente vai receber um país com 100 milhões vivendo sem captação de esgotos e 40 milhões sem água potável. Falta muito a ser feito antes de podermos dizer que este é um país desenvolvido.
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