Aparando arestas

Ilhabela vai barrar acesso de veículos para conter turismo de um dia

Câmara deve aprovar projeto do Executivo que limita em 10 mil o número de carros na ilha durante a temporada

Carlos Marchi
Ilhabela vai se tornar um paraíso restrito, fechando suas portas ao excesso de turistas. Um projeto que tramita na Câmara local - e deverá ser aprovado - prevê que na alta temporada e nos feriados o ingresso na ilha será limitado a 10 mil veículos. O número é menor que os 16 mil carros recebidos no carnaval e menos da metade dos 23 mil que entraram entre o Natal e o ano-novo. A medida a colocará entre as ilhas brasileiras protegidas, como Fernando de Noronha e Ilha Grande, no Rio.Autor do projeto, o prefeito Manoel Marcos (PTB) diz que Ilhabela não suporta mais o peso do turismo desenfreado, os terríveis engarrafamentos e o acúmulo de lixo deixado pelos visitantes, sem falar na bandeira vermelha permanentemente hasteada em três praias - sinal de água imprópria para banho - numa ilha que abriga um parque estadual e tem 88% de sua área ocupada por mata atlântica. Consultado pelo prefeito, o secretário estadual do Meio Ambiente, Xico Graziano, estimulou a adoção da restrição, mesmo antevendo o risco de polêmicas judiciais.Graziano prometeu apadrinhar um convênio do município com a Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) para peneirar o transporte de veículos na balsa São Sebastião-Ilhabela. Terão livre trânsito carros licenciados em Ilhabela, veículos de quem tem casa na ilha e de turistas com reserva em hotéis, pousadas ou campings, veículos oficiais e de transporte de gêneros e combustíveis. Mas os turistas de um dia (que chegam de manhã e vão embora à noite) só entrarão se o limite de 10 mil veículos não for esgotado.


LIMITES DA NATUREZA

O prefeito admite que a medida vai redundar na valorização dos terrenos da ilha, mas diz que seu objetivo é aplicar um freio na desordem turística do litoral norte. O ambientalista Mário Mantovani, da SOS Mata Atlântica, que em passado recente foi ácido crítico do prefeito, apoiou a restrição: 'Ilhabela tem limites e o carro é o primeiro a esgarçar esses limites. A fórmula é bem bacana.'A idéia de blindar a ilha tem antecedentes. Há alguns anos o município passou a cobrar uma taxa diária de R$ 375 a ônibus e vans de turistas que não têm reserva em hotéis e vão a Ilhabela somente para passar o dia. Esse turista, dizem os ilhéus, atravanca as ruas, gasta quase nada no comércio local e deixa montanhas de lixo nas praias.Os ilhéus confessam que fizeram uma clara opção pelos turistas mais abonados, como os passageiros de navios de cruzeiro, cujas escalas em Ilhabela têm aumentado ano a ano. De novembro a março, serão 64 transatlânticos (eram apenas 15 em 2000/2001) que desovarão turistas de um dia bem diferentes: mais de 100 mil pessoas que chegam sem carro, ficam em torno de oito horas e, nesse curto período, na atual temporada, gastarão R$ 14 milhões nos restaurantes, lojas e táxis de Ilhabela.'É polêmico', admite o vereador Márcio Garcia (PR). 'Mas quem dá emprego a nossa gente é o turista que fica nos hotéis, come nos restaurantes e compra nas lojas.' O presidente da Câmara, Joadir Capucho (PPS), faz dueto: 'Numa casa para 5 não cabem 20. Ilhabela passou do limite.' O ambientalista Nivaldo Simões, estudioso da história da região, concorda: 'É inevitável disciplinar a entrada de veículos e pessoas para dar qualidade ao turismo.'
A promotora do Meio Ambiente no litoral norte, Elaine Taborda, diz desconhecer o projeto, mas opina que, em tese, a idéia de controlar o número de veículos é eticamente correta e juridicamente sustentável. 'As prefeituras do litoral norte não têm fiscalização adequada e os movimentos de ocupação de áreas são intensos', afirma. 'E Ilhabela é de uma fragilidade ambiental muito grande.'À distância, Graziano diz que Ilhabela não terá novos empreendimentos imobiliários depois de concluído o condomínio Yacamin, da Odebrecht, com 150 casas. 'Lá não se derruba nem mais uma árvore', diz, repetindo a promessa que o antecessor, José Goldenberg, fez em 2005 e não cumpriu: vai demarcar o Parque Estadual de Ilhabela para não haver mais controvérsias sobre seus limites, até aqui medidos por altímetro, já que a linha demarcatória fica na cota 200 (200 metros acima do nível do mar). (Enviado por Paulo Pinotti)

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