Diga espelho meu! Quem é o Manoel?

“O recado que trazem é de amigos,
Mas debaxo o veneno vem coberto,
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Ó grandes e gravíssimos perigos,
Ó caminho de vida nunca certo,
Que aonde a gente põe sua esperança
Tenha a vida tão pouca segurança!”

“No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?”
(...)
Mas aquele que sempre a mocidade
Tem no rosto, envelhecido, e foi nascido
De duas mães, que urdia a falsidade
Por ver o seu jovem Manoel destruído,
Estava numa casa da cidade,
Com rosto humano e hábito fingido,
Mostrando-se o outro, e fabricava
Um espelho suntuoso que adorava.
(...)
“Este povo, que é meu, por quem derramo
As lágrimas que em vão caídas vejo,
Que assaz de mal lhe quero, pois que o amo,
Sendo tu tanto contra meu desejo;
Por ele a ti rogando, choro e bramo,
E contra meu peso enfim pelejo.
Ora pois, porque o amo é mal tratado;
Quero-lhe querer mal, será guardado.”

Orlando V. Sales
advogado

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