Carnavais passados

Eu era criança e não entendia nada, mas queria entender. Na época do carnaval as rádios tocavam marchinhas. Eu gostava, embora gostasse mesmo de Luiz Gonzaga, menos do Assum Preto, que me deixava triste. Quando tocava o frevo Evocação nº 1, de Nelson Ferreira, cantado por um coro de vozes femininas estridentes, eu ficava nervoso. E como tocava, até no “Picape do Pica-Pau” tocou.

Felinto... Pedro Salgado...
Guilherme...Fenelon...
Cadê teus Blocos famosos?
Bloco das Flores... Andaluzas...
Pirilampos... Após Fum...
Dos carnavais saudosos!
Na alta madrugada
O coro entoava
Do bloco a marcha-regresso
Que era o sucesso
Dos tempos ideais
Do velho Raul Moraes
Adeus, adeus, minha gente
Que já cantamos bastante...
E Recife adormecida
Ficava a sonhar
Ao som da triste melodia...


O que significava Pedro Salgado? Meu avô odiava um tal de Plínio Salgado e minha avó dizia para ele não comer salgado por causa da pressão. Guilherme, Fenelon, Andaluzas, palavras impossíveis para o meu modesto vocabulário. Os nomes eu não esqueci, especialmente dois, Pedro Salgado e Raul Moraes. Vez por outra, ao longo do desenrolar da existência me vieram à cabeça sem fazer sentido. Agora que sou mais experiente, ou acho que sou, tento entender o panorama político. Não estou tendo êxito, por mais que eu pense que as coisas são de um jeito, elas acabam se mostrando de outro, embora as pessoas digam que são como eu pensei que fossem. Complicado. Viver é difícil.

Sidney Borges

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