Opinião

Planejamento da cidade

Benedito Lima de Toledo
"A obra do homem é como o homem: com a diferença, porém, de que o período da renovação do gênero humano conta-se por anos e o da cidade por séculos." Dessa forma Alexandre Herculano se referia aos núcleos urbanos de sua época. Metrópoles ou megalópoles eram inimagináveis então.


O que dizer de postulantes ao cargo de gerenciador-mor de uma megalópole que cresce indisciplinadamente em todas as direções, consumindo reservas de espaço, comprometendo mananciais e privando os cidadãos de áreas de convívio?

A legislação ou o cumprimento de seus postulados sempre foram negligenciados. A ocupação de margens de represas, por exemplo, foi sempre ignorada. Esgoto e detritos de toda espécie são lançados às águas, reservando ao poder público a tarefa de tratá-la, a elevados custos, antes de entregá-la com seu característico mau gosto ao consumo da população. Tal fato explica o movimento de entregadores de "água mineral" em domicílio, representando um novo encargo para quem já paga o fornecimento domiciliar de água.

A permissividade do poder público acarreta prejuízos à saúde da população. O cidadão que adquiriu sua casa ou apartamento se vê privado de valores essenciais à vida, como insolação e ventilação, pelo abuso do solo.

A sensação de confinamento decorre da perda de visuais e saturação dos espaços à volta, congestionamento das vias e elevação do nível de ruído na cidade. A população é obrigada a conviver com carência nos diversos setores: habitação, educação, saúde, transporte - herança decorrente de décadas de má gestão, com alcaides preocupados, tão-somente, em deixar "sua marca", ou "cicatriz", poderíamos dizer. Uma ponte é concebida como estrutura para vencer um vão, como na Idade Média. Os complementos de integração na trama urbana, como alças de acesso, são deixados para os sucessores, os quais, por sua vez, não se dispõem a "amarrar a vaca para outro tirar o leite". Tome-se como exemplo a ponte Cidade Universitária. Quem observa o conjunto de helicóptero tem a sensação de observar um trem fantasma de parque de diversões. Carros vindo pela Marginal na direção do Ceasa, para tomar a referida ponte, são obrigados a fazer uma volta em ângulo reto e, cem metros adiante, outra de 180º. Confusão semelhante ocorre na outra margem.
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