Opinião

Com a cabeça e os pés no chão

Washington Novaes
Que efeitos terá a médio prazo a decisão do governo norte-americano de injetar US$ 200 bilhões para evitar a insolvência de duas empresas de crédito hipotecário e "um colapso do sistema financeiro" (Estado, 8/9), já que elas são "garantidoras de US$ 5,2 trilhões, metade do mercado hipotecário americano"? O investidores, registrou este jornal, "temiam que qualquer colapso em uma das duas poderia criar uma catástrofe financeira global". E no Brasil, que conseqüências se podem esperar? Estamos, como dizem os otimistas, fora da onda problemática, pertencemos aos famigerados BRICs, as economias de "países emergentes", que estariam incólumes às ameaças de recessão que batem à porta dos países industrializados? Ou ainda haverá novos sustos? Quem garante que os riscos estão apenas no mercado de hipotecas? Marcelo Carvalho, economista-chefe do Morgan Stanley, disse a este jornal (5/9) que "o nicho de abundância global está perto do fim" e que "a perspectiva é pior para commodities" (já em queda, como no nosso caso), principalmente quando vemos o saldo da nossa balança comercial encolhendo, o balanço em conta corrente negativo, "a valorização do real chegando ao fim", por causa do desaquecimento econômico na Europa, no Japão, nos EUA, na Ásia, que não demoraria para se manifestar aqui.

Mas o que tem que ver esse cenário com o quadro triunfalista que se vem apresentando para o País, principalmente depois da descoberta de mais petróleo? Continuamos a alardear previsões de crescimento do produto interno bruto (PIB) na faixa de 4,5% a 5%, no mínimo. E um novo horizonte de fartura a partir de hipotéticas receitas com as exportações do novo petróleo - sem sequer se cogitar de futuras restrições a combustíveis fósseis, em função de mudanças do clima. E sem lembrar frase famosa de Robert Kennedy, mencionada pelo jornal The New York Times: "O PIB mede tudo, exceto o que faz a vida valer a pena.
"Não faltariam números para nos agoniar. A economia de 15 países da zona do euro caiu 0,2% no segundo trimestre (primeira queda desde a união monetária de 1999); na Alemanha baixou 0,5%; na França e na Itália, 0,3%; as exportações européias baixaram 0,4% e o consumo, 0,2%. O desemprego nos EUA é o maior em cinco anos (6,1% em agosto) e a inflação, a mais alta em 20 anos - e tudo no momento em que esse país precisa criar 100 mil postos de trabalho por mês só para os que chegam pela primeira vez ao mercado. As bolsas no mundo caíram US$ 800 bilhões em agosto, US$ 6,4 trilhões em um ano, segundo a Standard & Poor?s. E nos mercados "emergentes" as perdas foram maiores (19,4% no trimestre) que nos países industrializados (11,55%). A análise de Gail Foster, do Conference Board, é contundente: a economia dos EUA está estagnada; a da Europa, entrando em recessão; a economia australiana está "desacelerando"; a do Japão, em queda. E nos EUA "o período de expectativa pode durar até mais cinco anos".
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