Opinião

Manobras no Mar do Caribe

Editorial do Estadão
A crispação das relações entre Moscou e Washington, desde a invasão russa da Geórgia e o reconhecimento da independência dos enclaves separatistas georgianos da Ossétia do Sul e Abkházia, veio a calhar para o "arruaceiro" latino-americano Hugo Chávez. Com toda a probabilidade, o surgimento da primeira grande crise diplomática em duas décadas envolvendo a Rússia e os Estados Unidos foi o que induziu o governo do presidente Dmitri Medvedev e do primeiro-ministro Vladimir Putin a embarcar, afinal, na insistente proposta do venezuelano para a efetivação do exercício naval conjunto aprovado em julho último, quando Chávez esteve em Moscou. Ele festejou à sua moda a operação prevista para novembro. "Chorem, ianques", divertiu-se, ao anunciar a manobra em seu impagável programa de televisão, "Alô, presidente" - onde ele costuma jogar o seu videogame preferido: "O rato que ruge."
Já os russos trataram de desvincular dos acontecimentos recentes a decisão de enviar para o Caribe quatro belonaves e uma força estimada em mil homens, além de um número indeterminado de aviões anti-submarinos a pousar na Venezuela - a primeira aparição militar russa na área desde o fim da guerra fria. "Essa é uma operação planejada, sem conexão com eventos políticos atuais ou com a situação no Cáucaso", disse um porta-voz do governo russo. "De nenhum modo os exercícios serão dirigidos contra os interesses de um terceiro país." Mas, uma semana antes, Putin advertira que Moscou responderia "com calma" à movimentação de navios de guerra americanos no Mar Negro. Um deles, trazendo ajuda humanitária, atracou no Porto de Poti, na Geórgia, ainda não desocupada pelos invasores.
É provocação contra provocação, portanto - mas, do lado russo, não apenas isso. A nave capitânia da esquadra a zarpar para o Caribe será uma das maiores e mais bem equipadas embarcações de combate do mundo, o cruzador Pedro, o Grande, de propulsão nuclear. Moscou despachará também um contratorpedeiro. A intenção é demonstrar que a Marinha russa recuperou o seu poderio e não está confinada às suas águas territoriais. É de notar, a propósito, que a primeira reação americana à confirmação do exercício tenha sido sarcástica. "Se a Rússia realmente pretende enviar uma esquadra ao Caribe", disse o porta-voz do Departamento de Estado, "isso significa que eles conseguiram encontrar algumas embarcações capazes de ir tão longe."
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