Viagens

Lisboa do Tejo

Sidney Borges
Hoje, às 09h07, recebi a visita de um leitor de Castanheira Do Ribatejo, Portugal. Bateu saudades de Lisboa. Nas tardes de verão, quando a noite cai e o vento do Tejo esfria o ar, Lisboa torna-se extremamente agradável. O clima é perfeito para papear ao ar livre. Eu costumava freqüentar um bar na avenida da Liberdade, em frente à sede do Partido Comunista. Depois de algumas visitas o garçon passou a conhecer meus hábitos. Mal eu abria o tablóide e me inteirava das novidades do fim do capitalismo ele trazia o porto seco Borges, o melhor que há. E uma garrafa de Perrier. Meia hora depois a dose era repetida e depois o "expresso, escuro como o inferno, forte como a morte, doce como o amor".

Meu interlocutor ocasional era um menino de 12 anos, Valdemiro, vendedor de flores, magro como um caniço. Não tinha família, vivia pelas ruas, dormia em albergues. Um dia falamos do Brasil, ele tinha curiosidade por causa do futebol. Que tal morar lá, perguntei. Ele ficou pensativo.

- Há lobos?

Respondi que sim.

- Lobos rurais, nas veredas urbanas não são encontradiços.

Valdemiro preferiu continuar em Lisboa. Por precaução. Os "loboslusos" foram quase extintos no grande terremoto. Alguns remanescentes tombaram de desgosto aos primeiros acordes de Grândola vila morena, naquele memorável 25 de abril. Onde andará o vendedor de flores?

Quando a noite finalmente caia a conta era saldada e eu, então, inebriado pelos vapores do vinho e alerta pelo contragolpe do expresso, contemplava o luminoso do banco Espírito Santo e me perguntava: por que que Deus ama tanto os banqueiros?

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