Deu em O Globo

Olhos nos olhos

De Merval Pereira:
O presidente Lula chega a Teerã para uma missão considerada impossível: tirar do governo teocrático de Mahmoud Ahmadinejad um compromisso formal de que o programa nuclear iraniano é para fins pacíficos, em termos que sejam aceitáveis para os países que querem aprovar no Conselho de Segurança da ONU sanções econômicas contra o Irã, sob a liderança dos Estados Unidos.

O problema é que esses países não acreditam na mera palavra do governo iraniano, e qualquer documento tem que ser seguido de fatos concretos, coisa que o Irã se recusa a fazer.

Classificado de ingênuo em diversas ocasiões por líderes internacionais como a secretária de Estado Hillary Clinton ou o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, o presidente Lula já teve uma primeira vitória diplomática: sua missão, por mais insólita que pareça, acabou recebendo o apoio dos governos dos Estados Unidos, da França, da Rússia.

Todos céticos com relação às chances de sucesso, mas obrigados a dar um voto de confiança ao carismático líder brasileiro, que procura ter o apoio da presença nas negociações do primeiro-ministro da Turquia.

O risco de fracasso, muito maior do que a chance de sucesso, faz com que Recep Erdogan relute em comparecer. Tanto Lula quanto Erdogan fazem parte daquela lista da revista "Time" de líderes mais influentes do mundo, e os dois parecem mais empenhados em afirmar essa influência, em contraste com o governo dos Estados Unidos, do que realmente em chegar a uma solução, que a todos parece inviável.

Assim como previsivelmente não conseguiu nada no Oriente Médio, a busca de um protagonismo internacional leva o governo brasileiro a assumir uma negociação com o Irã que dificilmente se concretizará, ainda mais na tosca concepção de Lula de que a solução ainda não foi encontrada por que nenhum dirigente internacional sentou-se para negociar com Ahmadinejhad "olho no olho".
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Nota do Editor - Analistas são seres especializados em colher dados, receber informações e dar aos leitores o panorama visto da ponte. A massa geralmente ingere a pílula sem contestar. Há engasgos. Na semana em que o capitalismo quase foi para a cucuia, se é que não foi e está sobrevivendo inercialmente, um brilhante analista de Economia de poderosa rede de TV teceu loas ao sistema e aos mercados. Afirmou que o liberalismo tinha atingido a maturidade. Crédito ilimitado, casas suntuosas, carros espantosos, mel e maná escorrendo pelas sarjetas. Viva os mercados gritou com olhos esgazeados e baba escorrendo do canto da boca. Será que a douta figura falava do que não conhecia? Talvez. Existe jurisprudência. Um ex-famoso jornalista, atual blogueiro dilmista, assim se colocou em relação ao Plano Real. "Não vai dar certo". Errou nego. O Plano é uma maravilha, sustentou oito anos de FHC e mais oito de Lula. Bombando. Dias depois do "paraíso terrestre em Wall Street" veio o dilúvio acompanhado das sete pragas do Egito e outras milongas mais. Em tempo, o "especialista" da TV continua fazendo análises. Não acredito em nada do que diz. Embusteiro. O nariz-de-cera serviu para que eu colocasse minha estranheza em relação ao Irã. Israel fez seu programa nuclear em silêncio. Índia, Paquistão e África do Sul também. Argentina e Brasil têm condições de desenvolver armas nucleares, calam, não tocam no assunto, se alguém pergunta disfarçam e saem assoviando. Já o Irã alardeia aos quatro ventos que vai enriquecer urânio a ponto de construir bombas. Nas entrelinhas fica explícita a intenção. A conta não fecha. Tem alguma coisa errada no discurso ameaçador. O que querem os aiatolás. Guerra? Estão a serviço de quem? Das petroleiras? Espero que alguem responda de forma convincente às minhas perguntas, o que tenho lido e visto na televisão não passa de material requentado da web. De baixa qualidade. (Sidney Borges)

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