Opinião
O Brasil na arrumação global
Editorial do Estadão
O Brasil superou sem grande estrago a crise mundial dos últimos dois anos e está suportando bem, até agora, os problemas causados pela insolvência grega e pela insegurança na Europa. Mas o País precisa preparar-se para um longo e penoso ajuste do mundo rico. As economias mais avançadas terão de apertar o cinto, nos próximos 10 anos, para conter o desastroso crescimento de sua dívida pública, estimada em mais de 100% do PIB em 2014. Essa proporção será 36 pontos maior do que antes da crise iniciada com o estouro da bolha de crédito em 2007.
A arrumação da casa deverá resultar em menor demanda nos países mais desenvolvidos e em condições mais difíceis no comércio internacional. Quem ocupar o Palácio do Planalto em 1.º de janeiro encontrará um cenário global muito menos favorável que o do período entre 2002 e 2008. Os candidatos deveriam incluir esse dado em seu planejamento desde já. Quanto ao governo atual, faria bem se começasse a pensar seriamente em como fortalecer o Brasil para mais esse desafio.
Todos os países precisarão de algum ajuste nos próximos anos, porque todos enfrentarão problemas fiscais mais graves que os dos últimos anos. O maior ajuste caberá aos mais desenvolvidos. Entre 2007 e 2010, seu déficit primário - o resultado das contas públicas antes do pagamento de juros - aumentou em média 7,5 pontos de porcentagem do PIB, segundo estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI). A maior parte desse aumento foi consequência da crise, mas os problemas fiscais vinham crescendo também por outros problemas, como o desajuste na Previdência e nos programas de saúde. Para essas economias, os técnicos do FMI esboçaram um longo programa de correção, desenhado para reduzir a dívida bruta, por volta de 2030, a 60% do PIB. Para chegar lá, terão de realizar a parte mais dura da arrumação até a metade do caminho, em 2020. Isso envolverá um ajuste equivalente a 8,75% do PIB no resultado primário das contas públicas. O cálculo foi feito com base em contas nacionais estimadas pelo critério da paridade de poder de compra e não pelo câmbio oficial.
As economias emergentes foram afetadas na crise, mais pela redução da receita fiscal do que pela concessão de incentivos. Estão, de modo geral, em melhores condições do que os países mais desenvolvidos. Necessitarão, em média, de uma arrumação equivalente a apenas 2,75% do PIB, até 2020, para alcançar, em 2030, uma dívida bruta correspondente a 40% da produção.
Alguns países, como Indonésia e México, precisarão basicamente de um moderado aumento de impostos - inferior a 3% do PIB - para fortalecer suas contas. Outros, como Arábia Saudita, Argentina, Brasil, Rússia, Suécia e Turquia, terão de realizar um ajuste de igual magnitude nas despesas públicas, sem elevar a tributação. Os acertos mais severos, superiores a 6% do PIB, caberão a Estados Unidos, Espanha, França, Índia, Irlanda, Japão, Portugal e Reino Unido, e envolverão tanto o corte de gastos quanto o aumento da carga tributária. Alemanha, Áustria, China e Itália também terão de mexer em receita e despesa, mas para uma correção menor, na faixa de 3% a 6% do PIB.
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O Brasil superou sem grande estrago a crise mundial dos últimos dois anos e está suportando bem, até agora, os problemas causados pela insolvência grega e pela insegurança na Europa. Mas o País precisa preparar-se para um longo e penoso ajuste do mundo rico. As economias mais avançadas terão de apertar o cinto, nos próximos 10 anos, para conter o desastroso crescimento de sua dívida pública, estimada em mais de 100% do PIB em 2014. Essa proporção será 36 pontos maior do que antes da crise iniciada com o estouro da bolha de crédito em 2007.
A arrumação da casa deverá resultar em menor demanda nos países mais desenvolvidos e em condições mais difíceis no comércio internacional. Quem ocupar o Palácio do Planalto em 1.º de janeiro encontrará um cenário global muito menos favorável que o do período entre 2002 e 2008. Os candidatos deveriam incluir esse dado em seu planejamento desde já. Quanto ao governo atual, faria bem se começasse a pensar seriamente em como fortalecer o Brasil para mais esse desafio.
Todos os países precisarão de algum ajuste nos próximos anos, porque todos enfrentarão problemas fiscais mais graves que os dos últimos anos. O maior ajuste caberá aos mais desenvolvidos. Entre 2007 e 2010, seu déficit primário - o resultado das contas públicas antes do pagamento de juros - aumentou em média 7,5 pontos de porcentagem do PIB, segundo estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI). A maior parte desse aumento foi consequência da crise, mas os problemas fiscais vinham crescendo também por outros problemas, como o desajuste na Previdência e nos programas de saúde. Para essas economias, os técnicos do FMI esboçaram um longo programa de correção, desenhado para reduzir a dívida bruta, por volta de 2030, a 60% do PIB. Para chegar lá, terão de realizar a parte mais dura da arrumação até a metade do caminho, em 2020. Isso envolverá um ajuste equivalente a 8,75% do PIB no resultado primário das contas públicas. O cálculo foi feito com base em contas nacionais estimadas pelo critério da paridade de poder de compra e não pelo câmbio oficial.
As economias emergentes foram afetadas na crise, mais pela redução da receita fiscal do que pela concessão de incentivos. Estão, de modo geral, em melhores condições do que os países mais desenvolvidos. Necessitarão, em média, de uma arrumação equivalente a apenas 2,75% do PIB, até 2020, para alcançar, em 2030, uma dívida bruta correspondente a 40% da produção.
Alguns países, como Indonésia e México, precisarão basicamente de um moderado aumento de impostos - inferior a 3% do PIB - para fortalecer suas contas. Outros, como Arábia Saudita, Argentina, Brasil, Rússia, Suécia e Turquia, terão de realizar um ajuste de igual magnitude nas despesas públicas, sem elevar a tributação. Os acertos mais severos, superiores a 6% do PIB, caberão a Estados Unidos, Espanha, França, Índia, Irlanda, Japão, Portugal e Reino Unido, e envolverão tanto o corte de gastos quanto o aumento da carga tributária. Alemanha, Áustria, China e Itália também terão de mexer em receita e despesa, mas para uma correção menor, na faixa de 3% a 6% do PIB.
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