Opinião

A greve que não deu certo

Editorial do Estadão
A maioria dos docentes da rede pública de ensino básico de São Paulo demonstrou bom senso ao não aderir à greve deflagrada esta semana pelo sindicato da categoria, a Apeoesp. Como sempre agindo sem pensar nos alunos, a entidade propôs paralisar as atividades escolares no final do semestre letivo, em pleno período de provas. Desta vez, a greve seria uma forma de protesto contra as reformas que o secretário de Educação de São Paulo, Paulo Renato Souza, pretende realizar para melhorar a qualidade do ensino da rede estadual, cujas escolas têm sido sistematicamente reprovadas nas avaliações feitas pelo Ministério da Educação e pelo próprio governo paulista.

A falta de adesão do professorado foi tanta que a Apeoesp teve de suspender o protesto no primeiro dia de paralisação. Segundo a Secretaria da Educação, apenas 1% dos docentes cruzaram os braços em todo o Estado. Só uma minoria tentou defender a continuidade da greve, numa reunião conturbada. Ela foi realizada em frente à Assembleia Legislativa e acabou quando a Polícia Militar interveio para evitar a invasão do prédio, em cujo interior Paulo Renato pedia aos deputados que votassem em regime de urgência os projetos de lei para a nova carreira do magistério.

O governo paulista quer alterar os contratos dos professores temporários, mudar o sistema de escolha dos professores das escolas estaduais e submeter os que forem aprovados em concurso público a cursos de qualificação e de treinamento pedagógico. A ideia é aplicar os novos critérios já a partir do segundo semestre, quando haverá concurso para o preenchimento de 60 mil vagas de professor efetivo na rede pública de ensino fundamental e ensino médio. Desse total, 10 mil já existem e outras 50 mil ainda precisam ser criadas por lei. Pelos planos do governo, os candidatos ao magistério terão de fazer dois exames eliminatórios ? atualmente, eles são submetidos a uma única prova. E, em vez de irem direto para as salas de aula, como ocorre hoje, os aprovados terão de passar quatro meses fazendo cursos técnicos numa Escola de Formação.

No término desse período de qualificação e treinamento, que foi concebido pela Secretaria da Educação para suprir as deficiências das faculdades de pedagogia, os docentes que forem reprovados numa prova final obrigatória não poderão ser efetivados. E, se já estiverem atuando como professores temporários, poderão ficar na rede escolar estadual, mas com uma carga horária reduzida e em atividades fora das salas de aula.

A oposição da Apeoesp a essas mudanças decorre de dois motivos. O primeiro é de caráter corporativo. Invocando os "direitos" dos professores temporários, ela quer evitar que sejam submetidos a essa bateria de provas ? inclusive o teste anual para a atribuição de aulas e escolha de colégios. Atualmente, há cerca de 80 mil docentes temporários em atividade. Eles representam cerca de 40% do magistério estadual e, por falta de qualificação e treinamento, são apontados como uma das principais causas da má qualidade da rede escolar pública.

O outro motivo que levou a Apeoesp a se opor aos planos de reforma do magistério público é de caráter inequivocamente político-partidário. A entidade, que é conhecida por sua vinculação com o PT, opõe-se sistemativamente às políticas educacionais implementadas nas três gestões de governadores eleitos pelo PSDB ? Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra. Muitas greves foram deflagradas pela Apeoesp em tempo de campanha eleitoral, com o objetivo de criar dificuldades para candidatos "tucanos" à Prefeitura e ao governo estadual.
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