Coisas da vida



Descrição

Sidney Borges
A foto acima veio parar em minha caixa postal em uma apresentação de PowerPoint. Não sei quem foi o autor do clique, mas sei que foi um trabalho bem feito. Fiquei pensando em dar um título.

Uma ave veria a cena com ares de tragédia, um ofídeo talvez se lembrasse de conversas gastronômicas.

A seqüência provavelmente foi desagradável para o simpático passarinho, um susto, nem deve ter dado tempo de perceber o que aconteceu. A cobra satisfeita enrodilhou-se em algum abrigo e dormiu, como fazem os humanos depois de devorar bebês bovinos, suínos ou aves. Se forem orientais um cachorrinho está de bom tamanho.

Dias depois a cobra tomava sol quando foi capturada por um gavião que a lançou das alturas sobre uma área rochosa e depois levou os pedaços para alimentar os filhotes.

Na escola primária a professora entrava na sala com um cartaz e dizia para fazermos uma descrição. Naquele tempo as crianças aprendiam a escrever, até verbos no tempo subjuntivo eram ensinados.

Eu era chefe do tinteiro, posto ganho pelas boas redações. A mim cabia encher os recipientes das carteiras da sala com tinta Parker azul royal lavável. Usávamos canetas de madeira com penas descartáveis. E mata borrões.

Se eu pudesse voltar àqueles doces tempos descreveria a cena assim:

- Eu vejo um passarinho muito bonitinho pousado sobre uma pedra pensando na brevidade da existência e alpiste. Distraído ele não percebe que seu destino está em vias de ser concretizado.

- Eu vejo uma cobra dando o bote, prestes a abocanhar um pobre passarinho filósofo. Viver é isso, seres vivos comendo seres vivos. No final todos morrem, mocinhos, bandidos e até o xerife.

Fazer o quê? Enquanto há vida o negócio é seguir cantando: amanhã ninguem sabe, traga-me uma morena, antes que o amor acabe...

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