Imprensa

Todo mundo já sabia

Leitores manifestam frustração com a decisão de tornar o jornal caudatário das informações já divulgadas na TV e na internet

Carlos Eduardo Lins da Silva* (original aqui)
"A manchete seria boa em 1921 [ano de fundação da Folha] quando não havia TV e internet. Hoje, parece mais um jornal de ontem. Todo mundo já sabia." Foi o que o leitor José Antonio Pessoa de Mello Oliveira escreveu ao ombudsman na terça sobre a capa do dia, quase toda dedicada ao acidente com o Airbus da Air France.

Mello Oliveira concluiu: "O autor da manchete precisa ter em mente que não é possível recriar o impacto de uma notícia já divulgada. A manchete deve explorar um desdobramento da informação inicial. É um ônus que o jornal de papel tem que aceitar".

No mesmo dia, a leitora Patrícia Sperandio perguntava "como é possível um jornal amanhecer nas bancas com uma manchete tão envelhecida?" e especulava: "A manchete principal da Folha de hoje explica por que o jornal impresso está, cada vez mais, perdendo espaço para outras mídias".

Diogo Ruic aconselhou: "Sugiro que manchetes, principalmente da capa, tragam algo novo para quem busca informação. O jornal não precisa tratar tudo como velho, mas há de se ponderar o que realmente é novidade. Ou alguém duvida que 99% dos assinantes do jornal já sabiam da queda do avião?"

Vários outros leitores manifestaram frustração com a decisão editorial de tornar o jornal caudatário das informações divulgadas pela TV, pelo rádio e pela internet no dia anterior, na terça e na quarta-feira. Estou com eles.

O que deveria ter sido feito? Admito que é difícil. Mas é preciso ter a coragem de errar para mudar e para dar a entender ao público que se está disposto a mudar. Qualquer coisa que sinalizasse ao leitor que este jornal respeita sua inteligência e não vai repetir o que ele já sabe seria melhor.

Outro aspecto da cobertura da tragédia que mobilizou leitores foi o noticiário em torno das vítimas, especialmente a utilização de fotos de algumas delas que foram retiradas de suas páginas em redes de relacionamento da internet.

Pessoalmente, sempre me incomodou muito o assédio de jornalistas a parentes de vítimas de acidentes. Mas é inegável ser dever do jornalismo registrar a história de vítimas de acidentes que se tornam públicos e que se isso for feito de maneira respeitosa pode servir de homenagem a elas e de preservação de sua memória. E quando alguém coloca suas fotografias no Orkut e em similares, sabe que elas estão ao acesso de qualquer pessoa.

*Carlos Eduardo Lins da Silva é ombudsman do jornal Folha de S. Paulo.

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