Coluna da Segunda-feira

Medo de avião

Rui Grilo
Estava pensando o que iria dividir com os leitores na próxima coluna. Abri o Ubatuba Víbora e o texto VIDA BREVE do Celsinho me deu o mote.

Sempre pensei que antes de conhecer o exterior, primeiro gostaria de conhecer o Brasil. Tinha duas barreiras: a falta de dinheiro e o medo de avião.

A primeira vez que tive a oportunidade de viajar de avião foi para dar um curso na Bahia. Nosso grupo era grande e não havia passagens para todos. Troquei com outro professor e fui por via terrestre, fazendo uma escala em Belô. Depois, fui convidado para dar outro curso em Curitiba e a viagem foi muito rápida. Demorou mais tempo para pegar a bagagem. Estava meio dopado porque foi na mesma semana em que minha mãe havia morrido.

Em seguida, fui a Porto Alegre para uma reunião de troca de experiências educacionais entre as prefeituras.

Assim, aos poucos, fui acostumando com o avião.

Logo depois fui convidado a dar um curso de formação de professores. Era uma turma bem legal e acolhedora. Pude desenvolver com eles várias reflexões, principalmente sobre a importância do nosso papel. Além do prazer da própria ação, aquilo que ganharia em um mês, recebi pelo trabalho de uma semana. Finalmente teria condições de realizar um grande sonho: conhecer a Amazônia.

No dia primeiro de 92 tomei o avião para Manaus e só retornei no último dia do mês. Desci de barco até Belém, descendo em várias cidades da beira do rio. Lá, ficava um ou dois dias até passar o próximo barco. Depois de Belém, fui ao Maranhão e ao Piauí.

Era a época do cólera e tive que tomar alguns cuidados com a alimentação. Como medida de precaução levei um frasco de hipoclorito de sódio para colocar na água, castanhas do pará e granola. Achei que não haveria problema em comer arroz porque era cozido. No barco, fiquei observando eles prepararem o almoço. Foi a maior surpresa: depois de cozido, o arroz era lavado embaixo da torneira !

Fiquei apenas dois dias em Manaus e depois fui para Itacoatiara de ônibus. Achei que viajaria cercado por uma densa floresta. Foi uma decepção. Só encontrei pastos. Durante todo o trajeto de Santarém até Monte Alegre o rio era iluminado por queimadas e a fumaça chegava a incomodar.

Quando o barco parava em algum povoado, bandos de crianças em frágeis canoas pediam dinheiro ou subiam ao barco para vender um salgadinho diferente. Era banana chips em fatias finas mas muito grandes, com uns 15 cm. Muito tempo depois é que encontrei novamente esse salgadinho de banana, em Peruíbe ou no Vale do Ribeira, mas em formato de rodelas pequenas.

Observei que, fora os habitantes do lugar, quase não havia turistas brasileiros. Encontrei argentinos, americanos, italianos...

Em Santarém, conheci uma das praias mais bonitas do Brasil: Alter do Chão. Alguém me disse que grande parte dos turistas vinham de iate direto da Europa. Foi lá, que recentemente esteve o príncipe da Inglaterra.

É pena que não tenha feito um diário de bordo porque foi uma experiência muito interessante e em cada lugar tive contato com pessoas muito diferentes e com ricas experiências de vida.
Rui Grilo
ragrilo@terra.com.br

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