Lembranças
Ennio Pesce
Sidney Borges
Fiquei triste ao ler no Observatório da Imprensa a notícia da morte de Ennio Pesce. Quando cheguei à Globo, no início da década de 1980, Ennio era o cara.
Fiquei alguns meses por lá cobrindo férias e retornei em 1984 como contratado, mas nesse momento a idéia do âncora já tinha passado e Ennio era apresentador e comentarista de política do SPTV.
Boni sempre foi antenado, bem informado e viajado. Os telejornais brasileiros tinham no apresentador um mero leitor de telepronter, sem participação nas notícias.
Nos Estados Unidos a coisa era diferente. Walter Cronkite Jr., âncora do CBS Evening News era tido como “o homem mais confiável da América”. Sua reputação garantia audiência e faturamento. Boni resolveu repetir a receita e escolheu Ennio Pesce para ser o âncora do Brasil.
Enquanto o projeto se desenvolvia Ennio sofreu um enfarte em pleno trânsito e segundo relato dele próprio, teve tempo de dirigir até o hospital, estacionar e dizer à atendente que precisava de socorro. Enquanto a funcionária insistia em ver os documentos ele desmaiou e só então foi socorrido. Recuperado depois de algumas semanas retornou à televisão onde nos tornamos amigos em função da paixão pelo boxe.
Em 15 de abril de 1985 Marvin “Marvelous” Hagler e Thomas "Hit Man" Hearns lutaram pelo título dos médios. O promotor Bob Arum chamou a luta de "A Guerra" e pelo retrospecto dos lutadores seria quase isso o que iria acontecer naquela noite na arena do Caesars Palace, em Las Vegas, nos Estados Unidos.
No Brasil, fora algumas notas esporádicas, a luta não foi divulgada. Na redação da praça Marechal Deodoro eu aguardava notícias, mas não havia nada nas rádios. Ennio passou pela minha sala e perguntou da luta, eu disse que esperaria pelo teletipo. Ele resolveu esperar também e assim, no início da madrugada do dia 16 de abril soubemos que Hagler tinha vencido no 3º round, mantendo o título pela 11ª vez, com 10 vitórias pela via rápida.
Continuamos amigos, eu sempre ouvindo histórias saborosas de políticos entrevistados por ele, como a de Jânio, no Guarujá, que tomou um litro de vinho quinado barato enquanto comia parmesão faixa azul e respondia às perguntas.
Nos anos da década de 1990 nos encontrávamos no parque Ibirapuera durante as caminhadas.
Quando amigos e conhecidos começam morrer é hora de colocar as barbas de molho, a fila se aproxima do guichê. O que virá depois?
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Sidney Borges
Fiquei triste ao ler no Observatório da Imprensa a notícia da morte de Ennio Pesce. Quando cheguei à Globo, no início da década de 1980, Ennio era o cara.
Fiquei alguns meses por lá cobrindo férias e retornei em 1984 como contratado, mas nesse momento a idéia do âncora já tinha passado e Ennio era apresentador e comentarista de política do SPTV.
Boni sempre foi antenado, bem informado e viajado. Os telejornais brasileiros tinham no apresentador um mero leitor de telepronter, sem participação nas notícias.
Nos Estados Unidos a coisa era diferente. Walter Cronkite Jr., âncora do CBS Evening News era tido como “o homem mais confiável da América”. Sua reputação garantia audiência e faturamento. Boni resolveu repetir a receita e escolheu Ennio Pesce para ser o âncora do Brasil.
Enquanto o projeto se desenvolvia Ennio sofreu um enfarte em pleno trânsito e segundo relato dele próprio, teve tempo de dirigir até o hospital, estacionar e dizer à atendente que precisava de socorro. Enquanto a funcionária insistia em ver os documentos ele desmaiou e só então foi socorrido. Recuperado depois de algumas semanas retornou à televisão onde nos tornamos amigos em função da paixão pelo boxe.
Em 15 de abril de 1985 Marvin “Marvelous” Hagler e Thomas "Hit Man" Hearns lutaram pelo título dos médios. O promotor Bob Arum chamou a luta de "A Guerra" e pelo retrospecto dos lutadores seria quase isso o que iria acontecer naquela noite na arena do Caesars Palace, em Las Vegas, nos Estados Unidos.
No Brasil, fora algumas notas esporádicas, a luta não foi divulgada. Na redação da praça Marechal Deodoro eu aguardava notícias, mas não havia nada nas rádios. Ennio passou pela minha sala e perguntou da luta, eu disse que esperaria pelo teletipo. Ele resolveu esperar também e assim, no início da madrugada do dia 16 de abril soubemos que Hagler tinha vencido no 3º round, mantendo o título pela 11ª vez, com 10 vitórias pela via rápida.
Continuamos amigos, eu sempre ouvindo histórias saborosas de políticos entrevistados por ele, como a de Jânio, no Guarujá, que tomou um litro de vinho quinado barato enquanto comia parmesão faixa azul e respondia às perguntas.
Nos anos da década de 1990 nos encontrávamos no parque Ibirapuera durante as caminhadas.
Quando amigos e conhecidos começam morrer é hora de colocar as barbas de molho, a fila se aproxima do guichê. O que virá depois?
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