Coluna do Moromizato

A notícia e o fato

Maurício Moromizato
Já tratei nesse espaço sobre a questão da imprensa e sua parcialidade e/ou omissão e/ou submissão aqui em Ubatuba. Alguns fatos se juntaram nessa semana para que eu tivesse novamente vontade e necessidade de abordar novamente o tema.

Em primeiro lugar, há um chamado para a “Conferência Nacional de Comunicação”, que discutirá as comunicações como um todo, envolvendo aí as concessões de rádio e TV, as rádios e TVs comunitárias, o papel da imprensa, da internet, etc. Inicio com esse artigo um processo de mobilização e aglutinação de quem quer discutir o tema em Ubatuba. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) está fazendo sua parte e chamando a população à discussão. Brevemente escreverei especificamente sobre esse tema.

Em seguida, tivemos recentemente a decisão do STF que terminou com a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Tal fato regulamenta uma situação já existente. Conforme já publicado aqui no Víbora coloca o Brasil ao lado de vários países com situação igual. Particularmente nas cidades menores, isso vai propiciar maior facilidade para se abrir um jornal e talvez ajude no surgimento de “imprensas” alternativas ao que está aí hoje.

O fato é que a partir da situação de Ubatuba podemos ver que urge uma nova forma de jornalismo e suas expressões, que reflitam de maneira correta os fatos do cotidiano, que possibilitem reportagens sobre as mais variadas situações e que de fato sejam agentes da informação, primando por distinguir a “informação” da “opinião”. É atribuída a um famoso escritor/jornalista/frasista a frase que diz “imprensa é oposição, o resto é loja de secos e molhados”. Abaixo cito três exemplos de parcialidade no trato das informações, de ausência na oitiva de todas as partes e de omissão de fatos no noticiário.

(1) A notícia: “Democratização chega ao Mercado de Peixes” – Jornal A Cidade, primeira página, 20 de Junho de 2009. Relata que a Prefeitura de Ubatuba, por meio da sua secretaria de agricultura, pesca e abastecimento assume o mercado de Peixes, situado na Ilha dos Pescadores. Na página 3 outra manchete diz: “Pescadores Ubatubenses conquistam o direito de comercializar no Mercado de Peixes” – A conquista se deve ao fato da prefeitura ter assumido a administração do Mercado; antes, somente pessoas vinculadas à Associação dos Pescadores de Ubatuba podiam comercializar seus pescados no Mercado.

O Fato: A “democratização” foi na verdade um ato ditatorial, vindo por meio de decreto, sem discussão alguma com a categoria. E pior, revogando um decreto anterior dessa atual gestão que entregou à Associação dos Pescadores de Ubatuba (APU) a administração do mercado, aprovada em Assembléia dos Pescadores. E indo além, a própria APU foi criada por estímulo da atual administração, num movimento político. Digo que o fato é esse porque acompanho a questão desde aquela época. Quem quiser tirar a prova pode ir pesquisar lá na barra dos pescadores. Democrática seria uma discussão ampla sobre a pesca, sobre a urbanização da barra dos pescadores, com instalação da bomba de óleo diesel (vinda do governo federal), sobre o saneamento básico na Ilha, e que envolvesse um projeto para o Mercado de Peixes. Nada disso aconteceu...

(2) A notícia: D.R.E. de Caraguatatuba (Delegacia Regional de Ensino), em aparente matéria paga traz a manchete “Alunos da E.E. Prof.ª Nair Ferreira Neves saem em defesa do Rio P. Mirim” – Jornal A Cidade de Ubatuba, pág.10 de 20 de Junho de 2009.

O Fato: independente do conteúdo da notícia, que relata toda semana os feitos da Secretaria de Educação Estadual, o Jornal não faz, nunca, reportagem sobre a qualidade e a situação real das escolas estaduais na nossa cidade de Ubatuba. Essa omissão ajuda a esconder a situação precária do ensino estadual, que absorve os alunos que saem da rede municipal. Salas cheias, falta de professores, excesso de professores eventuais, sem garantia de emprego e sem estímulo, desesperança na juventude. Mais um dado para confirmar a omissão, que prejudica a análise dos fatos: há mais de quinze anos não se constrói uma escola estadual em Ubatuba, e informações confiáveis dão conta que a situação se repete em todo o estado de São Paulo. Em contrapartida, só nos últimos anos ganhamos uma FEBEM e um Presídio em Caraguá. “Menos escolas, mais presídios” é a herança do governo Estadual. Cadê notícia sobre isso?

(3) Em “Aplausos censurados, o desespero da mídia”, Publicado no boletim eletrônico da Revista Carta Maior, Gilson Caroni Filho, professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa relata que ‘Em recente viagem a Genebra, o presidente Lula foi ovacionado ao discursar no Conselho Nacional de Direitos Humanos da ONU. Depois, segundo relato da BBC, “foi aplaudido seis vezes" ao criticar o Consenso de Washington e o neoliberalismo na plenária da OIT. O silêncio dos portais da grande imprensa e a ausência de qualquer referência ao fato nas edições da Folha de São Paulo, Globo e Estadão foi gritante. Representou o isolamento acústico dos aplausos recebidos. Uma parede midiática que abafa o “barulho insuportável" na razão inversa com que ampliou as vaias orquestradas na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos em 2007, no Rio de Janeiro. Nada como um aparelho ideológico em desespero’.

É por isso que tenho muito prazer em ter esse espaço de manifestação aqui no Ubatubavibora. Aos leitores e leitoras que também se sentem desinformados, fica um convite para refletir sobre esse tema. Tenho pensado muito na internet e nas redes sociais como mecanismo para difusão de informações verdadeiras e confiáveis, que acarretem um conhecimento que leve à correta compreensão do que acontece por aqui, das possibilidades e das oportunidades que Ubatuba tem. A experiência na política, o estudo e muitas discussões me trazem a certeza de que a “imprensa local”, atual e futura, deve ser assunto obrigatório quando se discute o destino de Ubatuba. Aos que têm a mesma opinião fica o convite para uma conversa que discuta opções à situação atual.

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