Opinião

Muitos bilhões e pouco efeito

Editorial do Estadão
Se a recuperação das economias dos Estados Unidos e da Europa dependesse apenas de pacotes multibilionários, ou trilionários, nesta altura, todos poderiam ficar tranqüilos. Na terça-feira, o governo americano anunciou novas linhas de ajuda ao setor financeiro, no total de US$ 800 bilhões, em mais um esforço para descongelar o crédito. Ontem, a Comissão Européia, órgão executivo da União Européia, propôs aos governos do bloco um plano de 200 bilhões (US$ 259 bilhões) para estimular o consumo e a atividade produtiva. A proposta inclui cortes de impostos e aumento de gastos públicos. A negociação com alguns governos poderá ser complicada, mas o plano, segundo o presidente da Comissão, o português José Manuel Durão Barroso, incorpora idéias já estudadas pelas autoridades de alguns países.


As intervenções no mercado financeiro vêm-se multiplicando há meses, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Os valores envolvidos cresceram desde outubro e as ações tornaram-se mais audaciosas - e até surpreendentes, como no caso da capitalização de bancos com dinheiro público. Mas todo o esforço foi insuficiente, até agora, para impedir a forte retração dos negócios nos maiores mercados e neutralizar o risco de uma recessão global.

Nos Estados Unidos e na Europa, as ações das autoridades serviram, por enquanto, para impedir uma quebradeira no mercado financeiro. As intervenções poderiam ter sido mais eficientes em alguns casos. Muitos criticam as autoridades americanas por terem deixado quebrar o banco de investimentos Lehman Brothers e mobilizado bilhões de dólares, depois, para salvar outras instituições. Mas, apesar disso, foi possível, nos dois lados do Atlântico, evitar algumas grandes falências e prevenir um devastador efeito dominó.

Mas nenhuma ação foi suficiente para restabelecer a confiança dos agentes financeiros, descongelar o crédito e repor em funcionamento o sistema de empréstimos para o consumo e para os investimentos. As novas medidas anunciadas pelo Tesouro e pelo Fed são voltadas especificamente para esse objetivo. Não se pode saber, por enquanto, se darão certo. Até agora, como disse o professor Simon Johnson, ex-economista-chefe do FMI, citado na Folha de S.Paulo, "o governo parece não saber o que está fazendo... e o que está fazendo não está dando resultado".

Enquanto os governos do mundo rico lançam bilhões no mercado, o quadro geral se agrava. Três das maiores economias da Europa - Reino Unido, Alemanha e Itália - já estão tecnicamente em recessão e várias outras estão muito próximas do crescimento zero.
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