Opinião

Lula fala muito e não convence

Editorial do Estadão
Na sexta-feira passada, em Belém, e domingo, em Roma, um exaltado presidente Lula voltou a bater na tecla de que os críticos das falhas da política do governo brasileiro de proteção da Amazônia contra o desmatamento não têm autoridade moral para se manifestar porque são cidadãos de países onde, em eras priscas, a destruição da natureza foi maior. ''Não vamos admitir que quem mais desmatou venha a dar palpite sobre o Brasil'', advertiu em discurso, andando de um lado para o outro, no lançamento de uma obra do PAC no Pará (o último evento do gênero de que participará numa capital até as eleições municipais, avisou). Já na Itália, onde falará hoje na abertura da Cúpula de Chefes de Estado da FAO, diante de 60 outros líderes nacionais, insistiu no argumento, numa entrevista informal com jornalistas que o acompanham. ''A União Européia só tem 0,3% de sua mata original'', comparou. ''Então, quando falar com o Brasil'', disse como se estivesse se dirigindo a um crítico imaginário, ''primeiro olhe o seu mapa.''
Perguntado sobre as denúncias da Anistia Internacional de que as condições de trabalho nos canaviais brasileiros lembram as da escravidão, Lula enveredou por outras analogias igualmente defensivas. Primeiro, fez uma equiparação absurda entre a faina dos cortadores de cana e a ''de um balconista que fica atendendo a gente, correndo dentro de um balcãozinho das 6 da manhã à meia-noite (sic)''. Em seguida, ocorreu-lhe aproveitar a deixa para mais uma estocada nos europeus. ''Agora (o trabalho no canavial) não é mais duro do que o trabalho em uma mina de carvão, que foi a base do desenvolvimento da Europa. Pegue um facãozinho e passe um dia cortando cana e desça numa mina a 90 metros de profundidade para explodir dinamite para ver o que é melhor'', sugeriu, como se não houvesse minas de carvão no Brasil ou não estivessem sujeitas a acidentes (no começo de maio, uma explosão matou dois mineiros em Santa Catarina).
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