Meio Ambiente

Quem cuidará do primo pobre?

Washington Novaes
Chama a atenção uma informação da secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Thelma Krug, de que ocorrem na Amazônia 59% das emissões brasileiras de gases em conseqüência de mudanças no uso da terra, desmatamentos e queimadas. Isso quer dizer que 41% ocorrem fora daquele bioma. E como quase já não há mais desflorestamentos na mata atlântica (da qual restam menos de 8% em fragmentos da área originária), conclui-se que a maior parte desses 41% ocorre no Cerrado, para o qual o governo federal prometeu ações só para "depois de 2010".

É grave, porque a situação do Cerrado já é mais do que preocupante. Segundo o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), o desmatamento nesse bioma é da ordem de 1,1% do território (mais de 2 milhões de km2) ao ano - cerca de 22 mil km2, praticamente o dobro do desmatamento anual na Amazônia. Diz o ISPN que o Cerrado já perdeu a cobertura vegetal em mais de 50% de sua área. E que o avanço dessa perda se deve à agricultura e à pecuária (embora a produção de carvão vegetal para siderurgias de Minas Gerais tenha participação importante - 17,3 mil km2 em matas nativas derrubadas entre 1997 e 2006, de acordo com o Observatório do Agronegócio, 26/11/2007).
Há alguma discrepância entre várias fontes quanto ao porcentual do Cerrado já desmatado (há quem fale em 20% remanescentes). Mas não há dúvida de que apenas 1,4% do território está protegido em unidades de conservação, e em torno de 5,5% se incluídos reservas particulares e outros formatos. Diz a Embrapa Monitoramento por Satélite que restam menos de 5% do Cerrado em fragmentos capazes de sobreviver, com mais de 2 mil hectares contínuos (abaixo disso, cadeias genéticas, reprodutivas, etc., não conseguem manter-se).
Embora muita gente considere o Cerrado um bioma "inútil" e "feio", trata-se de uma perda que não deveria acontecer. Essa "floresta de cabeça para baixo" - como a chamou o escritor goiano Carmo Bernardes (porque a maior parte da biomassa é subterrânea, raízes em busca de água em lençóis profundos) - detém cerca de um terço da rica biodiversidade brasileira. Já são mais de 10 mil espécies de plantas identificadas, das quais 4 mil endêmicas, só encontráveis no Cerrado.
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