Diálogos possíveis

Roma, futebol e o tempo que passa

Mino Carta
Respondo a Sidney Borges. Cidadão simpaticíssimo, mesmo porque concorda com minha preferência por Roma. Temos a lhe dizer que a gente passa a vida a curtir a saudade de si próprio. Também é verdade que o Trastevere continua igual enquanto eu mudei muito. Permito-me não concordar com algumas das suas opiniões a respeito do futebol italiano, que, aliás, no momento é campeão do mundo. Mudou muito, caro Sidney, mais ou menos como mudamos. Quem sabe até mais. Ainda dispõe de zagueiros muito bons, marcadores implacáveis, mas o tempo da retranca passou. Assista, se tiver tempo e vontade, aos jogos da Roma, da Udinese, da Fiorentina, da Sampdoria quando atua Cassano. Acho que vai gostar. Quanto ao futebol brasileiro, concordo plenamente que o Brasil é a terra di calciatori. A safra atual de talentos bate a de qualquer outro país. Há razões para tanto. Infelizmente, a miséria é uma delas. Bola de meia basta para a alegria da molecada. Há também, e isso é ótimo, a fibra longa da musculatura negra. Permito-me discordar da qualidade dos laterais. O problema do torcedor nativo é, frequentemente, esquecer a diferença entre a técnica individual e a postura tática. Tecnicamente bom, taticamente mau, dizia Mario de Moraes, parceiro-comentarista de Pedro Luis, o grande locutor. Um caso clássico: Júnior. Lateral-esquerdo, apoiava com maestria e defendia com falhas às vezes gritantes. Por exemplo, no famoso jogo do Sarriá de 1982, aquele capaz de criar o fantasma de Paolo Rossi. Júnior foi o primeiro responsável pelo terceiro gol da azzurra. Ficou na guarda do poste esquerdo, se saísse rápido Rossi ficaria impedido. Na Itália, Júnior virou meio-campista e jogou um bolão. Tenho certeza de que Cicinho na Roma vai melhorar muito. Um ponto a não ser descurado: o Brasil ficou sem ganhar mundiais de 1970 a 1994. Naquele período o mundo olvidou-se da terra di calciatori. Depois de 1994, taça ganha nos pênaltis (nada a objetar, mas partida vencida ali na fita de lã), a seleção foi esmagada na final de 1998 pela França de Zidane. Quanto a 2002, foi um campeonato estranho. Não duvido que os canarinhos merecessem ganhar, mas a ladroeira organizada pelo senhor Blatter para favorecer os donos da casa, Japão e Coréia, foi uma grandeza. Às custas de Itália, Espanha e Portugal. A azzurra teve anulados em três partidas cinco gols legítimos, e Totti foi expulso ao sofrer um pênalti por um mexicano chamado Moreno. Isto é do conhecimento do mundo mineral. (Blog do Mino)

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