Ubatuba em foco

A onda

Aos amigos leitores: Afora uma nota do amigo Sidney Borges, no Ubatuba Víbora, em 02 de outubro, não li nenhum outro comentário sobre as eleições 2006, apenas as publicações de percentagens e votações, em Ubatuba.
Seguindo a linha do texto publicado no “Víbora”, apesar de não ser factual, acredito que valha pena ser lido, pelo menos como uma análise tardia dos fatos (ou como registro histórico para consultas na internet, em futuro próximo, conforme defende o amigo Luiz Moura, do Guaruçá). No meu entender, as eleições de outubro passado foram uma prévia muito próxima das eleições 2008. Na presente análise, apresento este fato e vários outros, dentro do mesmo contexto.

A Tsunami virou marola

Enquanto os candidatos locais aos cargos legislativos tiveram um ou outro veículo, alguns cabos eleitorais e material de campanha limitado, Eduardo Cesar e Cia. desenvolveram, durante meses, uma “operação de guerra” visando garantir uma expressiva votação local para seu aliado estratégico, Gil Arantes, ex-prefeito da cidade de Barueri.
Indo além do imediato, havia, como pano de fundo, da “batalha” de 1° de outubro, desenhada pelo grupo situacionista como um confronto preliminar visando marcar posições para 2008. Em busca do melhor resultado, foram convocados vários secretários municipais e vereadores, um grande número de funcionários comissionados, além de outros que dependem diretamente da máquina municipal. Nas hostes governistas, pontificavam, além de “cabos”, vários “sargentos eleitorais”, estes convocados entre bem votados, mas não eleitos candidatos a vereador em 2004 (independente de partidos ou convicções), muitos já de olho no material de campanha para o próximo pleito. O real objetivo seria demonstrar uma imagem de domínio do eleitorado, apresentando uma imagem de força perante as forças políticas e a população local, uma vez que a expectativa virtual de votação, passava da casa dos 12 mil votos, partindo da seguinte estimativa: somando-se um percentual de 30% de transferência de cada um dos “cabos” ou “sargentos” eleitorais envolvidos, mais uma expressiva transferência direta dos votos de Eduardo.

Impressão de vitória

Pelo empenho de Eduardo Cesar e seu núcleo duro no apoio a Arantes, apesar das limitações impostas pelas novas regras eleitorais, como a que visava impedir a profusão de distribuição de camisetas (que acabou sendo liberada), muitos contavam com a possibilidade de uma repetição do três de outubro de 2004, quando o atual prefeito apresentou um verdadeiro “exército uniformizado e bem municiado”, utilizando uma estratégia agressiva, parecendo - aos olhos do eleitor - ser o único candidato ao cargo. Para quem passava pelas ruas e pelas sessões eleitorais, o efeito era impressionante: Parecia que uma verdadeira “tsunami” de votos em Cesar, varreria os outros candidatos do mapa político local.
Só que, se levarmos em conta a impressão de vitória causada pelos cabos eleitorais de Cesar nas ruas, quando abertas as urnas, estas não refletiram esta aparente “lavada eleitoral”. E tendo sido a vitória do atual prefeito, uma vitória apertada, com cerca de 600 votos de diferença, pode-se deduzir que a mesma foi fruto direto desta estratégia que a “impressão de vitória”, de “tsunami de votos” que seu exército de cabos eleitorais causou ao eleitor.
Por uma questão de tática e estratégia política, é evidente que Eduardo Cesar teria que aproveitar a eleição deste ano para testar sua força: Com quase dois anos de governo, procurou testar, sem maiores riscos, seu patamar de votos cristalizados, visando o planejamento para a eleição de 2008. A matemática desta campanha era simples: o número de votos conquistados para Gil Arantes seriam votos cristalizados. Se conseguisse, por exemplo, transferir 60% dos seus votos para prefeito (um pouco de 12 mil) para o candidato de Barueri, somados com os conquistados por seus “cabos” e “sargentos” eleitorais, mostraria - aos seus aliados - força e potencial para vôos mais altos. A escolha de Cesar e de seu grupo, no ponto de vista meramente eleitoral, era perfeita: o candidato era desconhecido para o eleitor local, sendo que Cesar e seu grupo, apresentavam-se como os fiadores destes votos.


Medindo o potencial

Nas urnas, no 1° de outubro, como não houve um confronte direto, devido a impugnação da candidatura do Vereador Charles Medeiros, Eduardo enfrentou, indiretamente – apoiando outros candidatos - um dos nomes mais cotados para substituí-lo em 2008: o ex-prefeito Paulo Ramos. Medeiros, que naquele momento, havia denunciado Cesar de uso da máquina pública na campanha de Arantes, acabou somando forças reforçando o time do ex-prefeito de Caraguá, Antonio Carlos, que terminou fazendo uma excelente votação em Ubatuba. A grande diferença entre eles era que nenhum dos candidatos locais teve a estrutura logística ou financeira apresentada pelo grupo de Arantes (leia-se Eduardo Cesar), em Ubatuba.
Os resultados mostraram que, apesar da máquina montada por Eduardo e seu grupo, os votos não vieram conforme o planejado para o candidato de Barueri. Ao invés dos mais de 12 mil votos esperados, vieram 5.362 votos, menos da metade do virtualmente esperado. E Eduardo ainda teve que amargar uma derrota direta de seu candidato para o ex-prefeito de Caraguá, o empresário Antonio Carlos (com 6.916 votos), além da excelente votação de Clodovil (7.168 votos, apesar de toda a campanha negativa e preconceituosa feita contra este). Mas em comparação à votação de Paulo Ramos (5.797 votos), embora superior à de seu candidato, manteve-se um equilíbrio, uma vez que Ramos, depois de dois mandatos como prefeito, também não fez uma votação expressiva, mesmo tendo mais de 50% de recall, se levados em conta os votos conquistados em 2004.
Pedro Tuzino e Rogério Frediani, ambos no PSDB, e Tato (PTB), apesar de votações menores dos candidatos que apoiaram, mostraram que ainda estão vivos e que não podem ser esquecidos como candidatos potenciais em 2008.


Acendeu a luz amarela

Para o núcleo duro de Cesar, porém, mesmo que esta transferência de votos não tenha se verificado a contento (no caso, a esperada “tsunami” virou “marola”), mesmo assim seus membros acreditam que não haverá nenhuma conseqüência direta, imediata, para o pleito de 2008. Entendem que, estando com a “máquina” na mão, continuam fortes e ainda caberão possibilidades de ajustes e alianças futuras e as culpas, pelo fraco desempenho na transferência de votos para Gil, poderão ser divididas – e exorcizadas – apontando-as como produto das críticas mal intencionadas e sem fundamentos feitas pela imprensa e pelos adversários políticos. Mesmo assim, as luzes amarelas no painel da nave do grupo situacionista devem estar todas acesas.

A “Maioria Silenciosa” está de volta

Resumindo para fechar: Por que o 1° de outubro de 2006 foi uma prévia de 5 de outubro de 2008? Simples: para Cesar, apesar de não conquistar o esperado “tsunami” de votos para um aliado estratégico, esta eleição foi uma oportunidade de testar, sem riscos imediatos, o poder da máquina que comanda, a fidelidade de seus comandados diretos e dos que pretendem estar ao seu lado. Já para o grupo de Cesar, a “prévia” foi uma forma de conquistar mais visibilidade. Se tivessem conseguido uma votação maciça em seu candidato, tal fato significaria um importante passo rumo à reeleição. Mas, os resultados que saíram das urnas acabaram demonstrando que a “maioria silenciosa” não está alinhada nem com A, nem com B e muito menos com C. Esta grande massa está esperando afagos e benefícios, e não importa se eles venham de Pedro ou do Clodovil, de Paulo ou do Rogério e muito menos de Virgílio ou do Caribé.
Os resultados das eleições legislativas em 2006, ratificam que o voto, em Ubatuba, nada tem de ideológico. O voto e a sua busca - aqui - são absolutamente pragmáticos. (Aliás, sobre falta de ideologia e sobra de pragmatismo o principal sintoma para ser observado atualmente é a defenestração do vice-prefeito Domingos dos Santos que, ao que parece, será trocado nas próximas eleições pelo incansável e astuto Moralino Valim). O voto em Ubatuba tem haver com propostas de melhoria de condições pessoais (“farinha pouca, meu pirão primeiro”). Essa maioria não leva em conta um discurso social, de melhoria coletiva. Não tem interesse pela vida pregressa do candidato, sua história ou se este possui propostas diferenciadas. É um voto sobrevivente, de uma maioria que está vivendo à margem ou quase à margem do mercado formal. E para conquistar este eleitor, os candidatos vão precisar bem mais que saliva, disposição e sola de sapato.

Marcelo Mungioli

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