Opinião

Alguns sinais positivos

Editorial do Estadão
Estoques elevados, encomendas em queda, produção parada ou reduzida pela concessão de férias coletivas, planos de investimentos suspensos, demissões, acordos de redução de jornada e de salários, projeções cada vez mais sombrias para o desempenho em 2009. Este é o cenário predominante no setor produtivo, reforçado nos seus aspectos mais negativos pelo noticiário sobre as atividades e os resultados das empresas no Brasil e no exterior. Quase perdidos nesse cenário, porém, alguns sinais de otimismo podem ser identificados. São sinais localizados de empresas que, beneficiadas por circunstâncias específicas, programam a expansão de suas atividades. Por enquanto não é possível prever a disseminação desses sinais para outras empresas e setores da economia, mas eles mostram que a crise, embora aguda, não é igual para todos.

Há dias, por exemplo, a Telefônica anunciou que, neste ano, pretende investir R$ 2,4 bilhões, 20% mais do que investiu em 2008. O plano de investimento da empresa tem como base a projeção de crescimento de 2% do PIB brasileiro em 2009, um número um pouco maior do que o previsto pelos agentes do mercado financeiro e captado pela pesquisa semanal do Banco Central (BC), de 1,8%, mas bem menor do que o estimado pelo próprio BC, de 3,2%.

A desaceleração da economia e as projeções pessimistas para os próximos meses não impressionaram a diretoria do Carrefour, que decidiu manter os planos de investimentos da empresa para mantê-la no topo do setor de supermercados. A empresa investirá R$ 1 bilhão em 2009 em 70 novas unidades no País e planeja investir mais R$ 1 bilhão no ano que vem.

Não são apenas grandes empresas que, apesar da crise, estão alcançado resultados satisfatórios e mantêm planos de investimentos para 2009. Enquanto as montadoras prolongam as férias coletivas de seus trabalhadores, para reduzir o estoque de carros novos nos seus pátios, fabricantes de componentes que atendem ao mercado de reposição aumentam suas vendas. Com maiores dificuldades para trocar de carro, seu proprietário passa a tratá-lo melhor, pois continuará dependendo dele. É isso que explica, por exemplo, o fato de empresas do segmento de peças de reposição, como fabricantes de filtros de ar-condicionado, investirem no aumento da produção.

Outras empresas foram beneficiadas pela taxa de câmbio, que aumentou sua competitividade, e por isso elas estão reconquistando nichos no mercado interno ou ampliando exportações. O fato de, até agora, o impacto da crise não ser tão forte sobre as famílias de trabalhadores de renda mais baixa estimula os fabricantes de produtos destinados a essa faixa social.

A empresa Lupo está contratando 300 trabalhadores para sua nova fábrica de Araraquara, que deverá ser inaugurada até junho, informou o jornal Valor. A direção da empresa prevê que os primeiros meses serão muito ruins - e os resultados de suas vendas em janeiro confirmam isso -, mas acredita que as vendas de bens de consumo semiduráveis e não-duráveis continuarão a crescer. Na avaliação da empresa, os consumidores evitarão comprar produtos duráveis, de maior valor - que comprometem uma parcela maior de sua renda -, e assim terão maior disponibilidade para comprar outros bens.
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