Fonte de potássio

O céu azulou

Sidney Borges
Tenho por certo que um dia servirão bananas nas primeiras classes dos aviões. Uma praga vem dizimando bananais ao redor do planeta. Felizmente ainda não chegou ao Brasil. Quando as bananas se tornarem raras, seu preço vai subir. Lei da oferta e procura. O que é raro acaba virando chique. Não é dificil decodificar o universo dos endinheirados. Gostam de exclusividade e como têm dinheiro pagam por isso. Vejo com bons olhos, cada um tem o direito de fazer o que quiser com o dinheiro que ganhou. Até transportar na cueca. Uma vez, ou como dizem os gringos quando começam uma história, once upon a time, lá pelos meados dos anos 80, eu estava passeando num palácio árabe em Sevilha. El Alcázar, construído no período dos mouros, que permaneceram na Espanha por 800 anos e deixaram marcas de sua rica cultura humanística. Convém lembrar que o Brasil só tem 500 anos. Em certo momento um guia à frente de um grupo de orientais mostrou uma bananeira. That's a banana tree o que em em português significa essa é uma bananeira. Uma bananeira comum, que há em todos os canto de Ubatuba. Vocês não podem imaginar a excitação. Deu-se um festival de interjeições de espanto acompanhadas do espoucar de dezenas de flashes. Naquele tempo ainda não havia câmeras digitais. Eu sempre desconfiei que ao nascer o bebê japonês ganha uma Pentax e uma Nikon e ao se tornar adulto sai mundo afora clicando. Tudo, de borboleta a baioneta. A empolgação dos japas me contagiou, corri para saber do que se tratava. Orgulhosa a bananeira percebeu que eu era oriundo de um "country of bananas" e me piscou cúmplice. Country of bananas, obviamente, no bom sentido. Mas há outro detalhe sobre as bananas nos aviões. Seres voadores gostam de bananas. Sempre coloco algumas no muro de casa e fico apreciando os pássaros. Saíras, tiês, bem-te-vis, pardais - gosto deles - alguns aos quais não fui formalmente apresentado, pretos como a asa da graúna ou o cabelo do Góis, e outros que não convido e aparecem assim mesmo. Na fruteira sobre a mesa da cozinha, quando o tempo esquenta e as bananas passam do ponto, chegam esquadrilhas de mosquitinhos. Ontem passei um bom par de horas observando esses pequenos seres alados. Eu que me julgo inteligente, demorei horas e horas para aprender a pilotar um avião. Esses companheiros minúsculos sabem tudo da arte de voar, não estolam, não entram em parafuso e nunca colidem, apesar de céu congestionado dos terminais bananíferos. Tenho apreço pelos pássaros e pelos mosquitinhos. Somos pilotos. E gostamos de bananas.

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