Domingueira

Cinema

Sidney Borges
Manhã de domingo. Nublada. Entro na rede e vou ao Google procurar informações sobre o livro "A Estrela do Sul", de Julio Verne, que deu origem ao filme "The Southern Star", de 1969. Assisti pela primeira há muito tempo, na Globo. Ficou marcado nos meus favoritos. A presença de Úrsula Andress, o tema musical na voz de Matt Monro e o enredo baseado na inteligência de Julio Verne formam um conjunto poderoso, capaz de realizar a função do cinema em sua plenitude. Tenho grande apreço pela sétima arte, que entendo como uma forma de distração. Algumas películas conseguem me tirar da repetição cotidiana e me transportam ao mundo dos sonhos, onde tudo é possível e as utopias se realizam conforme minha vontade. Nos tempos do movimento estudantil assisti infinitas vezes "Os Companheiros" - I compagni - de Mário Monicelli. Saíamos da escola prontos para fazer a revolução. Muitos queriam mudar de ditadura, trocar os militares pelos comissários do partidão. Eu queria mais liberdade, havia muito a ser mudado, mas decididamente eu não imaginava o Brasil com comunistas no poder. As diferenças entre os insatisfeitos com a redentora de 64 eram marcantes, no entanto havia uma ditadura a ser combatida. Ditadura moralista, em dualidade com o panorama libertário que se avistava no horizonte. De braços dados saíamos a gritar palavras de ordem pelas ruas da paulicéia. Por conta desses arroubos anárquicos - minha visão era essa - acabei conhecendo as delícias da custódia do Estado. Passei algumas noites do verão de 1967 nas masmorras do DOPS. Não me sinto herói nem vou reivindicar indenização pelo vacilo, eu queria liberdade e gritei por ela. Foi dificil explicar aos interrogadores - gentis, não houve violência - fui preso antes do AI-5. Me entrevistaram agentes do CENIMAR, do DOPS, do Exército, da Polícia Federal e a todos eu contei a mesma história, estava assistindo à passeata na Maria Antonia e a Polícia Marítima prendeu todo mundo. Hoje no alvorecer da velhice não acredito mais em utopias, aprendi a conhecer o ser humano e me tornei cético. Não há sistema que conserte o macaco sem pelos. Mas continuo gostando de cinema, o Canal Brasil é o meu preferido. Talvez pelo fato de tratar de temas próximos o cinema brasileiro me empolga, ainda que eu não tenha apreço pelos cacoetes de pobrismo e tentativas de fazer cabeças que há. Gosto do Ankito, do Oscarito, do Grande Otelo e do Anselmo Duarte. Não gosto do Glauber Rocha. Tentei gostar, fiz de tudo para me inserir no contexto. Decididamente não gostei. Quem sabe um dia eu mude de idéia, não é só o Lula que metamorfoseia ambulantemente. É da cultura brasileira. Gosto do Lula, ele quer o povo com dinheiro e feliz. Não perde tempo em devaneios esquerdistas, é pragmático. Não assisti ao único filme de Caetano Veloso, "Cinema falado". Nem tudo o que o prolixo baiano faz me empolga, mas sempre presto atenção. Antes de dar uma opinião vou passar na locadora. A vida me ensinou a não falar do que não conheço. Acho que estou me tornando chato. Pouco sei, então pouco falo neste mundo repleto de sábios do achismo. Mas juro que a minha ignorância não é por falta de curiosidade. Levo a vida tentando aprender...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu