Opinião

Escolas desarvoradas

Editorial do Estadão
Chamar de "revolta estudantil" o surto de violência predatória que transformou a Escola Estadual Amadeu Amaral, do Belém, em uma autêntica tapera é, no mínimo, uma impropriedade de linguagem, pelo simples fato de que não havia nada contra o que se revoltar. Em nenhum momento os estudantes externaram protesto sobre o que quer que fosse, como costuma suceder em revoltas estudantis. E, se houve palavra de ordem que conduzisse aquela turba de vândalos - calculada em 30 participantes e 12 líderes -, ela se resumia no imbecilizante grito: "Porrada, porrada, porrada!"

É sabido de todos e até surrado que as causas genéricas de ocorrências desse tipo passam pela desintegração das famílias, pela quebra dos valores morais da sociedade e pela decadência das relações e comportamentos no meio escolar, quando a figura do professor nem de longe inspira mais o respeito que se lhe atribuía em tempos não tão distantes. Esgarçou-se o tecido em que se confeccionava a autoridade magistral, o ponto de referência em que os alunos podiam se nortear no desafio de apreender, na escola, o indispensável para não serem derrotados na luta por uma vida digna. Em algum momento se deu a ruptura e o respeito cedeu lugar à descontrolada agressividade à menor tentativa de imposição de disciplina. Proliferam nas escolas públicas de segundo grau - talvez as mais atingidas pela decadência geral do ensino em nosso país - relatos de professores acuados, ameaçados, quando não agredidos de fato (e até assassinados) por seus alunos.

É longo o histórico de ameaças, ataques a professores e depredações que as escolas públicas de São Paulo vêm sofrendo nos últimos anos. Segundo a Secretaria Estadual da Educação, do início do ano até setembro foram registradas 50 ocorrências de violência nas escolas. No ano passado foram 180 casos e em 2006, 217.

Os exemplos se multiplicam. Em outubro deste ano os carros de quatro professores sofreram vandalismo no estacionamento da Estadual Herbert Baldus, no Jardim São Bernardo. No dia seguinte a mãe de uma aluna bateu na professora da filha dentro da Rocca Dorvall, em Guaianases. Na mesma semana um rapaz de 15 anos deu um tiro para o alto na frente da Escola Tarcísio Lobo, na zona norte.

Funcionários da Escola Amadeu Amaral apontam a existência de um grupo denominado Primeiro Comando do Amadeu Amaral (PCAA), apontado como o responsável pelo tumulto de quarta-feira. E o delegado titular do 81º DP, André Pimentel, afirma que essa escola tem um histórico de brigas e depredações. Assim, a rivalidade entre duas meninas - uma de 15 anos, vinda há um mês do Brás, e outra de 18, mais antiga na escola - foi o estopim da baderna, como poderia ter sido qualquer outra coisa, a levar estudantes a arremessar pedras e carteiras contra os vidros das janelas da escola, a jogar telhas de amianto do prédio e a fazer outros estragos. Declarou um professor que desde o início do ano os alunos têm quebrado janelas e até tentaram botar fogo na escola, só não o conseguindo graças à intervenção da polícia.
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