Opinião

Prodigalidade em tempo de crise

Editorial do Estadão
Sempre se imaginou, aqui ou em qualquer democracia representativa - onde não prevaleça o sistema político da dominação das corporações de ofício -, que deveria existir uma certa paridade de remuneração entre funções assemelhadas do serviço público e da iniciativa privada. Embora as disparidades sempre tenham sido enormes sob o aspecto previdenciário - pois só o Estado paga as generosas aposentadorias integrais, para citar um só tópico -, nesses dois tipos de atividade sempre se considerou que os servidores públicos só ganhassem bem quando sua remuneração se aproximasse da auferida pelos empregados em empresas privadas, em funções correspondentes ou correlatas. O governo Lula, porém, tem revolucionado esse entendimento: nunca antes no Brasil os funcionários públicos federais ganharam tão mais do que seus colegas em funções semelhantes da iniciativa privada, jamais tiveram reajustes salariais tão mais elevados e jamais pesaram tanto no Orçamento federal.

Com os reajustes salariais concedidos aos servidores da União, os gastos com as folhas de pagamento vão crescer, no último trimestre deste ano - comparado ao mesmo período do ano passado -, nada menos que 27,8%. E, se não houver mais nenhum reajuste, a despesa de pessoal crescerá de R$ 116,3 bilhões, em 2007, para R$ 171,1 bilhões, em dezembro de 2011. Ao longo do corrente ano o governo editou três medidas provisórias (as MPs 431, 440 e 441) reajustando salários de servidores. Essa expansão - especialmente no segundo mandato presidencial - tem sido paralela aos sucessivos e recordistas aumentos da arrecadação federal. Mas agora, quando as perspectivas de crescimento da economia e da arrecadação estão longe de mostrar-se tão alvissareiras como no últimos anos - e quando o presidente já parece quase convencido de que a marolinha que se formou é o prenúncio de um tsunami -, se complica o nobre objetivo presidencial de não fazer corte nos investimentos sociais e de infra-estrutura, no bojo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para adequar o Orçamento federal às limitações impostas pela turbulência econômica mundial. É que não dando para reduzir uma folha de pagamento inflacionada nem a carga previdenciária, o governo só poderá cortar investimentos.
Leia mais

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu