Crônica

Faltou humor nas eleições norte-americanas

Marcelo Mirisola*
Para mim, o melhor governante que o Brasil já teve foi Itamar Franco, porque era engraçado. Quem não lembra do fusca do Itamar? E do episódio (ou a calcinha que foi sem nunca ter sido) da Lílian Ramos nos camarotes da Marquês de Sapucaí? E quando Itamar foi governador de Minas Gerais e entrincheirou seus soldados em Furnas para defender a estatal da privatização?

Foi Itamar quem acabou com a inflação e criou o Real, que elegeria FHC duas vezes e faria de Lula o presidente reeleito com a maior popularidade da história do Brasil. Eu me diverti um bocado na época do Itamar. E se fosse norte-americano estaria pensando seriamente nessa hipótese, em que pese o paroxismo da questão. Que é (ou era) a seguinte: já que naquelas bandas vai continuar tudo na mesma, qual o candidato que poderia ser mais divertido para os EUA?
Ou seja, eles continuarão mantendo a hegemonia militar e econômica, a maldição de Bin Laden continuará pairando sobre os escombros das torres gêmeas, e os negros e latinos – em pouco tempo – deixarão de ser bucha-de-canhão e mão-de-obra barata para definir a eleição no nem tão remoto país White, Anglo-Saxon and Protestant. Como aconteceu agora. Aliás, o fato de Obama ser negro não vai servir para estabilizar a economia nos EUA, nem vai acrescentar Big Mac e batatas fritas à dieta dos iraquianos. E os talebans, igualmente, continuarão fanáticos e explosivos; seja no Afeganistão ou disfarçados de vendedores brasileiros de hot dog no Central Park. O fato de Obama ser negro não vai fazer o Hezbollah desistir de acabar com Israel. Quero apostar que o presidente do Iraque continuará a enriquecer urânio e continuará negando o holocausto. Putin vai massacrar quem aparecer na sua frente, e o fato de Obama ser negro tampouco vai frear a tagarelice de Hugo Chávez (embora possa até despertar a ternura no ditador). A camada de ozônio continuará furada apesar de Obama ser negro. E, apesar de o Caetano Veloso morrer de tesão pelo Obama, nada vai mudar o fato de o Palmeiras ter vendido Valdívia e não ser mais o time que foi no começo do campeonato. Quer dizer: vai continuar tudo na mesma porque Obama não é Deus, e nem de longe é o Lula.

Então qual é a graça de os EUA terem eleito Obama? A meu ver, nenhuma. Obama tem perfil de moeda, como diria Nelson Rodrigues. O Eduardo Haak me chamou a atenção para isso, alguma coisa também o incomodou; mais precisamente o olhar de Obama: “É um olhar semelhante ao de Ernesto Che Guevara naquela foto famosa: um olhar duro, fixado numa espécie de futuro hipotético que apenas ele parece enxergar. Um olhar que vai um pouco além da firmeza e sugere obstinação” . Eu já acho que sugere um mártir. Para mim, a grande vocação de Barack Obama é ser assassinado. Vai ser uma pena se o esquema de segurança de Obama for maior que o arquétipo que ele carrega nos ombros como se fosse um paletó.Vejam bem, essa é uma questão de signos e arquétipos, não tem nada a ver com opinião pessoal. Bom deixar claro antes que o leitor desavisado venha me acusar de reacionário, racista e asnices afins. Sou um cara de esquerda, porco Dio! Se McCain tivesse sido eleito, teríamos ao menos uma grande chance de ele não terminar o mandato... e de Sarah Palin assumir a presidência dos EUA. Aí sim, a coisa ia ser divertida. Já pensaram em Sarah Palin, com aquela cara de secretária bilíngüe de filme pornô, açoitando subalternos e fumando charutões enormes no Salão Oval da Casa Branca? Guardadas as proporções seria como se a Catia Fonseca... não, peraí, a Catia, não. Essa deusa paira acima do bem e do mal: é mulher para passear de charrete em Caxambu, levar para o pedalinho em Águas de Lindóia. Corrigindo: guardadas as proporções, seria como se Olga Bongiovanni fosse eleita presidente do Brasil.Eu penso que o potencial pornográfico e cômico de Sarah Palin seria muito divertido para o mundo. Ela é a falsa travada. Inspiraria uma legião de adolescentes no banheiro. Teríamos o clone de Sarah Palin no “Brasileirinhas”, e os camelôs faturariam uma boa grana com a venda de DVDs piratas da vagina mais explosiva do mundo, enfim, não sei qual seria o efeito disso para os exportadores de suco de laranja de Bebedouro, mas para a economia do Largo Paissandu e arredores ia ser bem legal. Creio que seria – no mínimo – mais divertido que os fuscas do Itamar.
Sabem o que pode acontecer? O Pior. O coroamento da falta de senso de humor desses gringos. Leia-se: Obama salvando os EUA do naufrágio com as políticas herdadas do gabinete de Bush: parece que Robert Gates, o secretário de Defesa do atual governo, permanecerá no cargo. Coisa mais sem graça. A não ser que... seja assassinado. Imagino que os executivos de Hollywood e o Inconsciente Coletivo de Almeida estejam no padock, salivando.
*Marcelo Mirisola, 42, é paulistano, autor de Proibidão (Editora Demônio Negro), O herói devolvido, Bangalô, O azul do filho morto (os três pela Editora 34), Joana a contragosto (Record), entre outros.

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