Opinião

As previsões inúteis e o roteiro possível

Washington Novaes
Não é preciso repetir todos os números. Quem tenha lido o caderno Pnad Especial, que este jornal publicou (19/9), e visto os números terríveis - 14,1 milhões de analfabetos no País, 4,8 milhões de crianças que trabalham, 40 milhões de trabalhadores sem carteira assinada, 8,1 milhões de desempregados -, assim como o índice de desigualdade social (pior que o da Índia) e o da concentração de renda (patamar semelhante ao de El Salvador, Panamá, Zimbábue, Zâmbia, Suazilândia), certamente estará perdendo noites de sono, imaginando caminhos mais alentadores para o futuro. Mas pensando também em como buscar alternativas sustentáveis num mundo mergulhado em crise financeira, social (925 milhões de pessoas passando fome, segundo a ONU, quase metade da humanidade abaixo do linha de pobreza) e ambiental (consumo além da capacidade de reposição do planeta, mudanças climáticas).

Pode haver caminhos interessantes para o País. Como, por exemplo, os indicados pelo professor Ignacy Sachs, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais da França, uma das pessoas que mais têm estudado as nações ditas em desenvolvimento. No livro Inclusão Social pelo Trabalho (Garamond/Sebrae/Pnud, 2003) ele já apontava para o Brasil a possibilidade de estratégias prioritárias em favor dos pequenos produtores (8,6 milhões) e empreendedores informais (4,3 milhões). E lembrava que 3,6 milhões de pequenas e microempresas já absorviam 44% da mão-de-obra com registro no País e respondiam por quase 20% do produto interno bruto (PIB). No País todo, havia 8,6 milhões de pessoas que trabalhavam nas cidades por conta própria, 4,3 milhões em empresas informais, 4,53 milhões de agricultores familiares trabalhando por conta própria, 4,76 milhões não remunerados e 4,54 milhões de "operários agrícolas". As soluções teriam de passar por essas sendas, onde estão os "arquitetos potenciais do futuro".
Em síntese, já propunha o professor Sachs um "crescimento puxado pelo emprego", e não apenas crescimento de números absolutos do PIB a qualquer custo. E esse caminho pressupunha consolidação e expansão da agricultura familiar (que continua a expulsar mão-de-obra), promoção das pequenas e microempresas, ampliação das oportunidades de trabalho autônomo no meio urbano. Os setores prioritários para geração de trabalho e renda deveriam ser os de obras públicas e de infra-estrutura, serviços sociais, educacionais e sanitários, construção habitacional e gestão de recursos naturais. Preconizava o autor, com ênfase, a transformação do meio rural, porque esse espaço não é só agricultura e esta não é apenas plantio de grãos - deve incluir industrialização de matérias-primas, associação com várias áreas (como a de produção de biocombustíveis, entre outras), turismo rural, assistência a idosos e deficientes (que teriam no espaço rural mais qualidade de vida e segurança, além de gerarem trabalho). Muitos caminhos que, na sua quase totalidade, não estão sendo trilhados hoje.
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