Vida



Voando no passado

Sidney Borges
Numa tarde de um sábado longínquo fiz um longo vôo entre Jundiaí, Itatiba e Itu e depois Jundiaí novamente. Decolei cedo, antes do meio dia, o tempo estava perfeito para o vôo de planador. No final da tarde, por volta das cinco horas, me senti cansado e resolvi voltar a Jundiaí. O panorama não poderia ser melhor, ar calmo, céu azul e alguns cúmulus bem definidos, mas espaçados. A cobertura não passava de um oitavo. Sobre Itupeva fiquei baixo, lugar ruim para pousar fora, relevo acidentado e pedras, muitas pedras, de todos os tamanhos. Comecei a procurar a térmica salvadora enquanto remoia Drummond. Logo a encontrei. Firme, forte, ampla. O climb anunciava três metros por segundo com picos de quatro ou cinco. Subi feito rojão e quando atingi a base deu para sentir o oxigênio e a sensação de euforia. Energia potencial é a alegria do piloto de planador, dá liberdade. Foi então que li a palavra cargo. Grande, vermelha, bem na minha frente, talvez a cem metros, ou quem sabe menos. Mergulhei em curva e ao completar cento e oitenta graus empurrei o manche até atingir a VNE. Eu tinha de me afastar da esteira do jato. De longe fiquei observando o 707 da Varig, magnífico pássaro prateado rumando para o pouso em Viracopos. Voava manso, tranqüilo e assim foi diminuindo, diminuindo, até sair do campo visual. Continuei voando, a situação anormal me despertou da letargia, voei até o anoitecer. Naquela noite eu tinha muita coisa para contar.

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