Opinião

As ameaças do mundo e o Estado nacional

Washington Novaes
Kofi Annan é um diplomata experiente, que durante mais de uma década, como secretário-geral da ONU, liderou as tentativas de resolver conflitos muito graves no mundo todo. Com essa experiência, ele tem reiterado que o problema central hoje não está no terrorismo, e sim nas mudanças climáticas e na insustentabilidade dos padrões globais de produção e consumo, já além da capacidade de reposição da biosfera planetária. São esses, a seu ver, os problemas que "ameaçam a sobrevivência da espécie humana". Não estranha, por isso, que ao falar na semana passada (Estado, 15/7) em São Paulo, no IV Congresso Brasileiro de Publicidade, ele tenha dado ênfase ao documento Global Compact, em torno do qual já reuniu mais de mil empresas de muitos países, dispostas a manter "práticas transparentes para cuidar do meio ambiente". Porque, segundo ele, "hoje nos confrontamos com problemas que não podemos resolver sozinhos. Daí a importância das parcerias".

Tanto no caso das mudanças climáticas como no consumo insustentável de recursos e serviços naturais, não há até aqui regras nem instituições capazes de promover as mudanças indispensáveis em nível global - porque não será suficiente fazê-lo em um só país ou alguns deles. Nem mesmo a ONU tem conseguido avanços decisivos. E de certa forma isso traz de volta ao palco a questão da eficácia do Estado nacional diante das profundas transformações do quadro político-econômico internacional nas últimas décadas. Ainda ao tempo de Annan na ONU, na década de 90, relatórios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) chamavam a atenção para o fato de os governos nacionais, principalmente dos países ditos "em desenvolvimento", terem de governar com a atenção voltada nas 24 horas do dia para computadores com as informações sobre os mercados financeiro e cambial em toda parte. Porque se não fossem capazes de dar respostas imediatas, em tempo real, os resultados para a economia de seus países poderia ser catastrófico. Mas, nesse caso, perguntava o Pnud, onde fica a democracia? Porque esta exige discussão, formação de consenso ou maioria. Sem essa discussão, a democracia se esvai.
Leia mais

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu