Casabranca

O amor e suas razões

Sidney Borges
Nos conhecemos no trem. Ao abrir a bolsa o batom dela caiu. Tentei ajudar e quando me abaixei ela também se abaixou. Nossas cabeças colidiram. Ela levou a pior, o sangue brotou da testa descendo pela face e tingindo de vermelho o avental branco. Imaculadamente branco. Descemos na estação São Caetano para procurar uma farmácia. Foi um corte pequeno, nem precisou de pontos. Ela me disse que morava na Casa Verde. Trocamos os números dos telefones e cada um foi para o seu lado. Na semana seguinte liguei. Estava tudo bem, o corte tinha cicatrizado. Combinamos de ir ao circo. Comecei a notar algo estranho ao parar o carro na porta dela. A casa era branca, mas ela disse Casa Verde. Por quê? No circo comemos pipoca, na hora do trapezista dar o salto triplo ela engasgou e perdeu o ar. Foi ficando branca, branca, como as paredes da casa branca. Pensei que fosse morrer. O engolidor de fogo a salvou com um soco nas costas. Levei-a para a casa branca pensando em pôr as coisas em pratos limpos. Não gosto de ser enganado. Por que ela teria falado em Casa Verde? Sou romântico, detesto mentiras. Na semana seguinte ela me ligou do hospital. O soco do engolidor de fogo quebrara duas costelas e uma perfurou o pulmão esquerdo. Ela se desculpou por não ter ligado antes, estava na UTI. Aceitei as desculpas. Marcamos um novo encontro para o dia quinze de agosto. Vamos ao concerto de um pianista chamado Sam. Ouvi dizer que toca divinamente "As time goes by". Finalmente vou perguntar. Que história é essa de Casa Verde se a sua casa é branca? Sou destemido, não deixo as coisas para depois. Meu nome é Rick.

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