Editorial

Esperança a oito quilômetros de profundidade

O petróleo existe e é nosso, era a convicção de Monteiro Lobato que enfrentava com unhas e dentes quem afirmasse não haver nada no subsolo tupiniquim além de subsolo. Tia Nastácia sabia das coisas, dizia ao Pedrinho: perto do Sítio tem muito petróleo, muito gás e muito sal embaixo de muita água cheia de peixes e Lula. Pedrinho sabia que o sal em profundidades grandes comporta-se de forma diferente do sal da salada e dos passarinhos. Você não entendeu? Experimente pegar o saleiro e colocar uma pitadinha na cauda de um beija-flor. Pedrinho também sabia que volúveis não são apenas as mulheres, o sal - quem diria?- muda de caráter conforme a localização. Nas profundezas assemelha-se a uma pasta gelatinosa em função da temperatura e da pressão elevadas. Abrir um túnel nesse tipo de material é um desafio. Modelos de computador indicam que o túnel se fecha assim que é aberto. O jeito vai ser escorar. Como? Não sei. A Petrobras certamente dará um jeito. Nosso petróleo está bem protegido por uma lâmina d’água de dois quilômetros de espessura acima da camada de sal e sedimentos de seis quilômetros. Medidas médias, em certos pontos a coisa é mais suave. De qualquer forma, supondo que o petróleo seja atingido, um novo desafio para a engenharia será isolar termicamente os dutos que irão conduzi-lo à superfície. O precioso ouro negro sairá da camada de sal a cem graus Celsius para dar de cara com água do mar a quatro graus Celsius. O petróleo não pode esfriar sob pena de formar “coágulos” que impedirão seu fluxo, mais ou menos o que ocorre com quem passa a vida comendo torresminho e feijoada e acaba tendo de fazer ponte de safena. Quando dá tempo. Sobre nossa riqueza recente e sua localização, lembro-me da máxima que ouço desde criança: nada é impossível. Eu concordo em termos, penso que ficaria melhor assim: nada é impossível quando a grana é farta. Tirar nosso petróleo vai custar muito dinheiro e demorar muitos anos, os otimistas falam em três, os pessimistas em quinze, vamos fazer a média aritmética e deixar por nove ou dez. Quando esse petróleo aflorar Ubatuba vai receber um bom quinhão. Um montão de grana, a arrecadação vai aumentar exponencialmente. Seria desejável que os métodos político-administrativos evoluíssem, mas com o desenrolar dos acontecimentos recentes é difícil acreditar que isso venha a acontecer. Em Ubatuba experiências que não deram certo – e que jamais darão - são repetidas a cada quatro anos e servem única e exclusivamente para renovar a frustração. Isso precisa e deve mudar, vamos tentar algo novo, vamos aposentar quem deve ser aposentado, ou seja, noventa e nove por cento dos políticos que aí estão. Fora com eles, sangue novo no pedaço.

Sidney Borges

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