Pedi o impeachment de Lula

Diogo Mainardi em Veja
Para o presidente da CUT, "falar em impeachment do Lula é loucura". De acordo com ele, só um "tresloucado do neoliberalismo" poderia propor algo assim. Mais ainda: só um "golpista", só um "udenista". Os petistas sempre se referem a mim como neoliberal, golpista e udenista. Como eu não gosto de decepcionar ninguém, sobretudo os membros da classe trabalhadora, decidi cumprir meu papel e, na última sexta-feira, encaminhei ao Congresso Nacional um pedido de impeachment. O correio prometeu entregá-lo na segunda-feira. O presidente da CUT, em sua entrevista ao blog Nos Bastidores do Poder, disse que não dá para entrar com um pedido de impeachment como quem "compra rabanete na feira". Dá sim. Eu não sei escolher um rabanete. Por outro lado, sei o que esperar de um presidente. Lula é um mau rabanete. Compreendo perfeitamente que o presidente da CUT repudie o impeachment. Eu faria o mesmo em seu lugar. Lula foi um dos fundadores da entidade. E dos onze mensaleiros petistas denunciados pelo procurador-geral da República nove eram da CUT, assim como muitos outros que não constam de sua lista, como Paulo Okamotto, Marcelo Sereno e Waldomiro Diniz. O presidente da CUT avisou que, caso o pedido de impeachment prospere, movimentos sociais como CUT, UNE e MST tomarão as ruas em defesa do mandato de Lula. Duvido. Ninguém foi às ruas para pedir o impeachment. Mas ninguém irá protestar contra ele. O máximo que pode acontecer é que um punhado de arruaceiros quebre uma ou outra vitrine. Ou seja, nada que umas cacetadas no cocuruto não resolvam. Por mais que os petistas alardeiem o contrário, o Brasil é excepcionalmente carente em matéria de neoliberais, golpistas e udenistas. Tanto que, em toda a crise do mensalão, de julho do ano passado até agora, só nove tresloucados apresentaram pedidos de impeachment contra Lula. Os oito primeiros pedidos já foram sumariamente arquivados pelo presidente da Câmara dos Deputados. O último ainda está em fase de análise. Como meu pedido também será arquivado, não perdi muito tempo com ele. Limitei-me a copiar o pedido de impeachment de Fernando Collor de Mello. Mantive todos os seus trechos mais enfadonhos, como as referências ao padre Manuel Bernardes e a Cícero. Deputados e senadores apreciam documentos com referências ao padre Manuel Bernardes e a Cícero. Os autores do pedido de impeachment de Collor foram Barbosa Lima Sobrinho e Marcello Lavenère. Eu teria deixado seus nomes no pedido de impeachment de Lula. Mas Barbosa Lima Sobrinho morreu. E Marcello Lavenère está comodamente instalado no governo Lula. Ele é presidente da Comissão de Anistia. Outro dia, deu 100.000 reais de aposentadoria a José Genoino, um dos onze petistas denunciados pelo procurador-geral da República. Marcello Lavenère, na época do impeachment de Collor, era presidente da OAB. Na semana que vem, a OAB deverá decidir se entra ou não com um pedido semelhante contra Lula. O consenso é que não há clima político no país para um pedido de impeachment. Na verdade, não há clima nem para comprar rabanetes.

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