Editorial


Um planador incorpora o que há de conhecimento aerodinâmico

Voando alto

No meio da década de oitenta, eu costumava dividir os fins-de-semana entre Ubatuba, Tatuí e Bauru. Nas cidades interioranas ia em busca das térmicas. Nessa época eu era um praticante assíduo, para não dizer fanático, de Vôo a Vela. Não confundir com o Vôo Livre das asas delta. O Vôo a Vela incorpora o que há de mais avançado em termos de conhecimento aeronáutico. Planadores são máquinas de altíssima tecnologia, capazes de voar centenas de quilômetros apenas com a energia obtida nas correntes da atmosfera. Para se ter uma idéia, o recorde brasileiro da modalidade em vôos de distância acabou de ser batido, no Maranhão. O piloto autor da façanha foi Thomaz Milko, de quem modestamente fui instrutor e que voou pouco mais de mil quilômetros. Isso mesmo mil quilômetros, sem motor. Mais um caso em que o aluno supera o mestre, o que na verdade só dá satisfação ao mestre. Pois bem nessa época, um dos pilotos de planador era também piloto de avião e estava engajado na campanha de Wadih Helou. Todo mundo conhecia o candidato, ex-presidente do Corinthians. Mesmo assim, o piloto me contou a rotina. Durante meses eles saiam de São Paulo, do Campo de Marte, num Sêneca e voavam o dia inteiro, de cidade em cidade, onde o candidato se encontrava com correligionários, cumpria tarefas de campanha, participava de solenidades e homenagens e coisa e tal e voltava para o aeroporto. O custo dessa peregrinação vocês podem imaginar. Meu amigo ganhava bem. Uma campanha para o Legislativo Estadual, para aspirar ser bem sucedida, custa no mínimo cinco milhões de reais. É isso mesmo, não há exagero, estou até sendo modesto. Eu disse para ser bem sucedida, para simplesmente figurar não custa nada. No caso do candidato pretender morar no Planalto Central, aí a coisa pega. Conseguir uma cadeira na Câmara dos Deputados não é tarefa simples. Chegar quase lá acontece e deixa muitos candidatos iludidos. Imaginam que os votos se repetirão na próxima eleição. Não é raro acabarem desapontados. Dou um exemplo concreto. Um ex-prefeito de Taubaté teve mais de sessenta mil votos para a Câmara Federal. Não conseguiu a vaga, mas ficou animado e foi confiante tentar ser prefeito novamente. Ficou lá atrás, escapando por pouco da lanterninha. Em tempo, depois do trabalho incansável, e da montanha de dinheiro gasto, Wadih Helou foi eleito pelo PTB, o que prova que com trabalho e dinheiro tudo é possível.

Sidney Borges

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mosca-dragão

Pegoava?

Jundu