Editorial

Mais fácil encontrar duendes...

Em todas as cidades que visitei existe algum tipo de feirinha hippie. Lembro-me bem do início dos anos oitenta, da feirinha do Leblon, que ficava numa praça da qual não consigo lembrar o nome, mas que era passagem obrigatória nos domingos de manhã. Em São Paulo a coisa começou a ganhar corpo na Praça da República, muitos anos antes, no tempo da Jovem Guarda. Meu saudoso amigo Zé Cardoso fazia totens de pedra sabão. Vendiam como pão quente. Com o dinheiro amealhado ele passou uma longa temporada na Europa. As autoridades faziam vistas grossas aos impostos. Ganhava-se cem, embolsava-se cem, o governo fingia que não estava vendo. Enquanto a coisa ficou restrita aos artistas, “meno male”. Logo surgiram os atravessadores. É sempre assim. Depois do governo de Luiza Erundina, quando de forma equivocada as ruas do centro foram ocupadas por marreteiros, a coisa degringolou de vez. Hoje é possível comprar de tudo no comércio informal de São Paulo. Pelos preços do Paraguai ou de Miami. Dizem que nesse tudo estão incluídos produtos proibidos, como armas e drogas. Uma coisa chama a outra. Do ponto de vista fiscal a abertura dos portos foi um verdadeiro tiro no pé. Os lojistas que pagavam em dia seus tributos se associaram aos vizinhos informais. Passaram a ganhar mais e a pagar menos. Perdeu a cidade. E também a prefeita Erundina, que jamais voltará. E olhem bem o que vou dizer, Erundina fez um bom governo, equilibrado, atendeu regiões carentes, melhorou os salários dos servidores, deu atenção à saúde e à educação. Eu votaria nela, mas o povo já deu mostras de pensar diferente. Os camelôs no centro foram o “Waterloo” de sua ascensão. Em política a coisa funciona assim, um passo em falso e o trabalho de anos vai pelo ralo de forma irreversível. Em Ubatuba os equívocos são evidentes. Primeiro seria implantado a qualquer custo o projeto das ciclofaixas. Com a grita geral houve recuo, ficou para março. Felizmente, com falta de planejamento e preparação, teria sido um desastre. Depois houve a retirada da amendoeira, com toda a celeuma que provocou. Pela frente teremos certamente grandes batalhas jurídicas sobre a ocupação da tenda que será erguida e que provavelmente vai repetir outros logradouros em litígio. Isso me lembra as brigas de moleques. Alguns resolviam na hora, batiam, apanhavam e ficava por isso mesmo. Outros chamavam o pai. Empurrar problemas para a Justiça é agir como aqueles que se metiam em confusão e não tinham competência para sair. Em Ubatuba temos apenas um ano de governo. Ainda faltam três, o que teoricamente seria tempo suficiente para reverter o quadro negativo que há. Você acredita em duendes? É mais fácil dar de cara com um do que esperar coerência onde ela não existe.

Sidney Borges

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