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CSI

Sidney Borges
O morto jazia imóvel. Está assim desde o último suspiro disse a testemunha. Não se move e não reclama do calor. O delegado escreveu em seu caderninho. Morto como o mar de mesmo nome. No chão, grânulos esbranquiçados, pista. O perito recolheu, o motoqueiro do laboratório levou.

Mortos não suspiram, o morto aparentava ter dado um último suspiro. Há quem afirme que após o passamento pode haver suspiros. Desta forma o suspiro em vida deixa de ser o último e passa a ser o penúltimo. Mero detalhe, mas a ordem do suspiro altera a cena do crime.

Pergunta simples.

O que fazia o morto antes de morrer? O delegado escreveu no caderninho. É de se supor que pagasse contas, coisa de vivos.

Manga, exclamou o marido da testemunha escandindo as sílabas. O mor-to co-meu man-ga. E tomou leite, pelo menos um litro. Comeu manga e tomou leite, escreveu o delegado. Obrigado.

O caso começava a tomar forma.

Súbito chegou a mulher de preto. Esguia, fumando com piteira. Misteriosa, véu de renda sobre o rosto. Lábios carnudos, boca sensual. Emergindo do chapéu de feltro uma cascata de cabelos ruivos e fartos refletiam a luz lilás do abajur.

Encarou firme o policial e sussurrou com voz de veludo:

- Pode encerrar o caso doutor, foi suicídio. Ele queria morrer, almoçou feijoada e em seguida fez a barba, ligou o rádio e ouviu o “O crime não compensa”. Dava para ver a tensão nas veias azuis das têmporas. Por último comeu a manga e tomou o leite. Está morto. Morreu de desgosto.

No sofá o paletó de tropical Erontex sem uma das mangas.

O laudo da autópsia revelou morte por asfixia. Havia muito a investigar, cansado o delegado entrou no Ponto Chic e pediu bauru de rosbife com pepino.

Continua

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