Love letters

Correio Aéreo

Sidney Borges
Desde criança sou fascinado pelos correios. Meus avós moravam no Paraná, semanalmente minha mãe conversava com eles através de cartas. Eu ficava com os selos. As figuras eram tão bonitas quanto as das Estampas Eucalol. Vez por outra chegava um presente para mim, sempre pelas mãos do carteiro, que era quase da família, sabia da vida dos parentes distantes, das alegrias , das tristezas, das doenças, dos nascimentos.

Hoje continuo admirador da logística complexa que está por trás das empresas que transportam mercadorias e correspondência, caso da Fedex. Minha sobrinha trabalha com moda e encomenda peças na China e arredores. As amostras chegam em dois dias, são corrigidas, devolvidas e a produção começa.

Quem faz compras pela internet está acostumado a rastrear o Sedex. Depois de procurar o melhor preço e comprar em qualquer parte do Brasil, basta esperar. Em um ou dois dias a encomenda estará em sua casa.

Mas nem sempre foi assim. O Correio Aéreo Militar começou no Brasil em 1931. Aldo Pereira conta como foi a viagem inaugural em seu livro "Breve História da Aviação Comercial Brasileira".

No dia 12 de junho de 1931, os Tenentes Casimiro Montenegro Filho e Nelson Freire Lavenère-Wanderley, da Aviação Militar, fizeram a primeira viagem, em um avião Curtiss “Fledgling”, de matrícula K-263, levando uma mala postal, com duas cartas do Rio de Janeiro para São Paulo.

Partiram ao meio dia e enfrentaram dificuldades nesse vôo pioneiro: devido a um forte vento, a duração da viagem aumentou em duas horas. Chegaram a São Paulo cinco horas e meia após a decolagem do Campo dos Afonsos.

Como era noite e não conseguiram localizar o Campo de Marte, aterrissaram na pista do Jockey Club da Moóca. Depois, foram de bonde até a estação central dos Correios, entregando lá a mala postal.

Pois é, o malote postal começou a viagem em avião e terminou de bonde, mas a missão foi cumprida, as cartas chegaram ao destino.

Nos Estados Unidos a coisa também foi complicada, mais do que aqui como narra Aldo Pereira. Parece roteiro de comédia de filme mudo.

Convencidas as autoridades federais da conveniência e viabilidade do correio aéreo, este teve início na primavera de 1918. O vôo inaugural foi um fracasso, um verdadeiro vexame, que quase desestabiliza o projeto. Assim nos conta a jornalista Patricia Trenner, no artigo Air Commerce, publicado na revista Flying de setembro de 1977:

"O primeiro vôo do correio aéreo realizou-se na primavera de 1918, durante a guerra, com avião e piloto do exército. O serviço foi inaugurado da forma mais ridícula: uma multidão de manda-chuvas capitaneados pelo próprio Presidente Wilson reuniu-se em Washington no dia 15 de maio de 1918 para assistir a decolagem do avião que transportaria a primeira mala postal. Durante um quarto de hora o piloto tentou pôr o motor em funcionamento até que se decobriu que o avião Jenny não tinha gasolina, pois se esqueceram de abastecê-lo de combustível. Depois da decolagem o piloto tomou o rumo sul em vez de tomar o rumo norte. E foi em frente. Surpreendido pela noite que chegava, o piloto pousou em um milharal no Estado de Maryland, onde acrescentou à lista de barbeiragens até então cometidas, mais uma, quebrando a hélice. A primeira mala postal aérea seguiu de trem até o seu destino".

O correio é assim, tanto faz se de bonde, trem ou avião, sempre chega com as novidades.

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