Opinião

A guerra em Gaza

Editorial do Estadão
Em novembro de 2007, o presidente George W. Bush reuniu vários chefes de governo e de Estado em Annapolis, para discutir um plano destinado a resolver a questão palestina. Estabeleceu-se como objetivo a assinatura, até o final de 2008, de um acordo que, definindo as fronteiras do Estado Palestino e as normas de convivência entre os dois povos, levasse a paz duradoura à região. O governo de Israel, embora relutantemente, aceitou a proposta, também acatada pelo líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Tratava-se da primeira tentativa séria e de envergadura de resolver o conflito, desde o fracasso das negociações lideradas pelo presidente Bill Clinton, cerca de oito anos antes - e, por isso, foi recebida com entusiasmo pela comunidade internacional.

Mas o plano de Annapolis não levava em consideração a instabilidade do governo israelense e as profundas divisões internas do movimento palestino. Em junho do ano passado, o governo do primeiro-ministro Ehud Olmert, enfraquecido por uma onda de escândalos, ficou sem condições de negociar com os palestinos concessões que os partidos radicais de oposição consideravam inaceitáveis. Preferiu congelar as conversações de paz a ser derrubado por um voto de desconfiança do Knesset.

A Autoridade Palestina, por sua vez, foi enfraquecida pela disputa interna que culminou com o Hamas expulsando o Fatah da Faixa de Gaza, o que obrigou Mahmoud Abbas a transferir a sede do governo palestino para a Cisjordânia. Ao contrário do Fatah, que negocia diretamente com Israel, o Hamas jamais aceitou as premissas básicas do plano de Annapolis - o reconhecimento do Estado de Israel e a renúncia ao uso da violência.

Com as conversações em ponto morto, Israel e Egito fecharam as fronteiras da Faixa de Gaza e o Hamas ficou isolado. Em novembro do ano passado, o governo egípcio tentou promover a união dos movimentos palestinos. Mas, no último momento, o Hamas se recusou a ir ao Cairo, o que aumentou o isolamento do movimento terrorista entre os próprios países árabes, que apoiavam a iniciativa egípcia.

Com o fechamento das fronteiras, as condições de vida de cerca de 1,5 milhão de palestinos que vivem na Faixa de Gaza se deterioraram ainda mais, e isso se refletiu no apoio popular ao Hamas. Uma pesquisa feita em novembro passado mostrou que apenas 16% dos palestinos apoiavam o Hamas, enquanto cerca de 40% apoiavam o Fatah. O problema é que o apoio popular ao governo da Autoridade Palestina também é pequeno. Apenas 20% da população da Cisjordânia apoia a administração de Mahmoud Abbas, considerada frágil tanto por não ter conseguido manter a união do movimento palestino como por não ter avançado nas negociações com os israelenses.

A ofensiva aérea de Israel contra a Faixa de Gaza, provocada pelo recrudescimento dos ataques com foguetes às cidades do país, está provocando uma consequência indesejada pelo governo israelense. Aumenta não só a adesão interna ao Hamas, como amplia a solidariedade dos países árabes ao movimento terrorista.

O governo israelense está mais preocupado com esse efeito do que com o repúdio da comunidade internacional ao que considera uma resposta desproporcional aos atentados terroristas. Reluta, assim, em desencadear uma operação terrestre contra a Faixa de Gaza, necessária para a destruição dos arsenais do Hamas. O Gabinete teme que suas tropas acabem "atoladas" nos acampamentos de refugiados, envolvidas em uma guerra pouco convencional que a campanha contra o Hezbollah mostrou não ser o forte do Exército israelense - o que acabaria numa matança indiscriminada de civis. Esse seria um preço político alto demais a pagar por uma improvável derrota militar do Hamas.
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